Folha de S. Paulo


Hillary teve encontros oficiais com doadores de fundação, diz agência

Mais de metade das pessoas de fora do governo que se reuniram com Hillary Clinton quando ela era secretária de Estado (2009-2013) doou dinheiro -pessoalmente ou por meio de empresas e organizações- para a Fundação Clinton. A proporção indica possíveis desafios éticos caso ela seja eleita presidente.

Pelo menos 85 das 154 pessoas de interesses privados que se reuniram ou conversaram com Hillary pelo telefone quando ela era secretária de Estado doaram dinheiro para a Fundação Clinton ou para programas internacionais que ela apoia, de acordo com uma revisão das agendas do Departamento de Estado.

Combinados, os 85 doadores contribuíram com até US$ 156 milhões [cerca de R$ 500 milhões] para as causas de Hillary. Pelo menos 40 deles doaram mais de US$ 100 mil, e 20 fizeram doações de mais de US$ 1 milhão.

Entre os doadores que tiveram acesso direto a ela está Muhammad Yunus, economista bengali que conquistou o Nobel da Paz em 2006 como pioneiro do "microcrédito" de baixo custo para pequenos empresários pobres.

Ele se reuniu com Hillary três vezes e falou com ela pelo telefone no período em que o governo de Bangladesh estava investigando Yunus por sua atuação num banco sem fins lucrativos e o pressionava para que deixasse o conselho da instituição.

Ao longo do processo, Yunus apelou por ajuda em mensagens encaminhadas a Hillary, e ela instruiu assessores a que encontrassem meios de ajudá-lo.

Afiliadas americanas do Grameen Bank, de Yunus, vinham trabalhando com programas da Iniciativa Global Clinton desde 2005.

O Grameen America, divisão americana presidida por ele, doou entre "US$ 100 mil e US$ 250 mil" à fundação, um valor que Becky Asch, porta-voz do banco, diz refletir o custo anual de participação nas reuniões da Iniciativa Global Clinton. Outra subsidiária do Grameen, também presidida por Yunus, a Grameen Research, doou entre US$ 25 mil e US$ 50 mil.

Hillary também se reuniu, em junho de 2011, com Nancy Mahon, da MAC Aids, organização de caridade da MAC Cosmetics, controlada pelo grupo Estee Lauder.

A reunião aconteceu antes de o Departamento de Estado anunciar uma parceria com a MAC Aids para financiar educação e prevenção da doença na África.

O fundo da MAC AIDS doou entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões à Fundação Clinton. Mahon não respondeu aos pedidos de entrevista da Associated Press.

As reuniões entre a candidata democrata à Presidência e os doadores da sua fundação não parecem ter violado os acordos judiciais que Hillary e o ex-presidente Bill Clinton assinaram antes que ela assumisse a secretaria de Estado, em 2009.

Mas a frequência das sobreposições dá a entender que ter acesso a Hillary e doar à fundação estavam correlacionados.

As agendas e e-mails divulgados nesta semana descrevem dezenas de contatos entre Hillary e seus principais assessores, de um lado, e grandes doadores, do outro.

Hillary se reuniu ainda com representantes de pelo menos 16 governos estrangeiros que doaram até US$ 170 milhões à fundação, mas não estão incluídos no cálculo porque essas reuniões poderiam ser parte de suas obrigações diplomáticas.

PREOCUPAÇÃO ÉTICA

Na semana passada, a Fundação Clinton agiu para rebater as preocupações éticas sobre futuras doações ao anunciar mudanças caso Hillary seja eleita.

Na segunda-feira (22), Bill Clinton anunciou que, caso sua mulher vença, ele deixaria seu posto no conselho da fundação e abandonaria os esforços de arrecadação de fundos para a instituição.

As mudanças planejadas não afetariam os mais de seis mil doadores que já deram mais de US$ 2 bilhões à organização dos Clinton desde que esta foi criada, em 2000.

Brian Fallon, porta-voz da campanha de Hillary, não respondeu a perguntas sobre planos de transição da candidata quanto à ética, mas afirmou que o padrão de restrições da fundação era "rigoroso a um ponto sem precedentes, mesmo que jamais satisfaça certos críticos".


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