Folha de S. Paulo


Alvo de ataque terrorista há 1 mês, Nice também veta uso do 'burquíni'

O balneário francês de Nice proibiu nesta sexta-feira (19) o "burquíni" em suas praias. Medidas semelhantes haviam sido tomada recentemente em outras cidades francesas.

Cannes também não permite o traje, com o qual mulheres cobrem todo o seu corpo para entrar no mar.

O veto em Nice tem uma simbologia particular. Essa cidade foi alvo, em julho, de um ataque terrorista que deixou 86 mortos –a cifra foi atualizada na sexta-feira, com a morte de um ferido. Aquele atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

Fethi Belaid/AFP
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Mulher tunisiana usa um "burquíni" em praia nos arredores de Tunis esta semana

A palavra "burquíni" mistura o biquíni com a burca, vestimenta islâmica que cobre corpo e rosto. Mas o burquíni deixa o rosto à mostra. As proibições na França têm sido justificadas pelo argumento de que o traje não respeita os princípios de secularidade do país. Detratores afirmam, por sua vez, que a medida prejudica apenas os muçulmanos, sendo portanto discriminatória.

Organizações como o Coletivo Contra a Islamofobia na França e a Liga de Direitos do Homem têm se manifestado contra esse veto. A proibição ao burquíni é vista com simpatia pelo governo francês, e mobiliza políticos da direita, como Marine Le Pen (Frente Nacional).

Em Cannes, onde o veto temporário foi instituído em 28 de julho, a multa é de 38 euros (R$ 140). Uma mesma mulher só pode ser multada uma vez ao dia, e não pode ser obrigada a sair da praia. A França é lar de aproximadamente 5 milhões de muçulmanos. O país proíbe desde 2010 que se cubra o rosto, o que veta a burca.

ALEMANHA

No mesmo contexto de reação a ataques terroristas, e em um cenário de crescente ansiedade diante do islã, o governo alemão anunciou durante a sexta-feira planos para também vetar parcialmente a burca no país, após pressão de conservadores.

Já era esperado que a Alemanha proibisse a burca. Mas havia disputas dentro do governo em torno do tema. Thomas de Maizière, ministro do Interior, havia anteriormente dito que essa medida seria "constitucionalmente problemática".

Na sexta-feira, ele parecia convencido do contrário. O veto que ele anunciou só será válido para algumas situações, "quando for necessário para viver junto" na sociedade alemã. Ele disse a uma TV local que a burca "não se encaixa no nosso país aberto".

As situações em que mulheres não poderão mais cobrir o rosto incluem dirigir um carro, visitar autoridades públicas, frequentar universidades e trabalhar no setor público, além de aparecer na corte, segundo o ministro.

A chanceler Angela Merkel havia afirmado, na véspera, que se opunha a um veto geral, mas que ao mesmo tempo uma mulher totalmente coberta tinha poucas chances de integrar-se ao país.

A rede alemã Deutsche Welle relatava durante o dia que, apesar da discussão sobre a proibição, a burca é "virtualmente desconhecida" no país. O niqab, vestimenta que deixa os olhos à mostra, é mais comum nesse país.

Hannibal Hanschke/Reuters
Chanceler alemã, Angela Merkel, descarta crise do sistema bancário italiano
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DUAS ELEIÇÕES

A Alemanha, que acolheu mais de um milhão de refugiados em 2015, ficou abalada em julho pelo ataque com um machado cometido em um trem por um adolescente afegão de 17 anos, que deixou cinco feridos, e por um atentado lançado por um suicida que feriu 15 pessoas nas imediações de um festival de música.

Atingida pelas críticas e enfrentando uma queda de popularidade, Merkel disse que a ameaça terrorista não tem relação com sua política de abertura aos demandantes de asilo.

"O fenômeno do terrorismo islamita do EI não é um fenômeno que tenha chegado até nós com os refugiados, era algo que já existia", declarou em um comício.


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