Folha de S. Paulo


Uruguai chama de mal-entendido suposta compra de voto no Mercosul

O Uruguai chamou nesta quarta-feira (17) de mal-entendido a interpretação de que o Brasil teria tentado "comprar o voto" do país para impedir que a Venezuela assumisse a presidência temporária do Mercosul.

A declaração é feita após o mal-estar provocado por uma conversa do chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, na qual afirmou que o presidente Tabaré Vázquez ficou "muito incomodado" com a proposta do governo brasileiro.

Alan Marques - 12.ago.2016/Folhapress
O chanceler brasileiro, José Serra, recebe o presidente da Armênia, Serzh Sargsyan, em Brasília
O chanceler brasileiro, José Serra, recebe o presidente da Armênia, Serzh Sargsyan, em Brasília

Segundo Nin Novoa, seu colega brasileiro, José Serra, disse que, caso o Uruguai aprovasse a suspensão de Caracas do bloco, o Brasil "nos levaria em suas negociações com outros países", em referência a acordos comerciais.

A frase foi publicada pelo jornal uruguaio "El País" na terça (16) e levou Serra a convocar o embaixador uruguaio em Brasília, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para prestar esclarecimentos, em sinal de reprovação.

Em entrevista, Serra disse que a situação foi resolvida. "Não há mais nenhum problema no nosso trabalho conjunto com o Uruguai. Ele [Rodolfo Nin Novoa] considera que houve mal-entendido, um equívoco da parte deles."

Horas depois, a Chancelaria uruguaia confirmou a interpretação do mal-entendido. "Ficou perfeitamente claro que a proposta não tem qualquer relação com a consideração da passagem da presidência do Mercosul", diz, em nota.

"O Uruguai entende que a prioridade essencial é conseguir evitar qualquer impasse que provoque uma paralisação nas atividades do bloco. Com o objetivo de fortalecer o Mercosul, o diálogo é essencial para este propósito."

Dos quatro países-membros originais, apenas o Uruguai é favorável à Venezuela na chefia do bloco. Brasil, Argentina e Paraguai se opõem por rejeitarem o mandatário venezuelano, Nicolás Maduro.

Devido ao impasse, o Mercosul está sem presidente desde 1º de agosto. Os três países acusam o chavista de não respeitar os direitos humanos ao manter opositores presos e reprimir manifestações de seus rivais.

O argumento oficial, porém, é que Caracas não cumpriu as exigências para se tornar membro permanente do bloco até 12 de agosto, quando terminou o prazo de quatro anos para que o país se adequasse a todos os tratados.

Também é avaliada a possibilidade de "rebaixar" a Venezuela na organização para impedir Maduro de assumir a Presidência. Caracas já esteve à frente do Mercosul de julho de 2013 a julho de 2014.

Nesta quarta, Serra voltou a dizer que Maduro não tem condições de dirigir o Mercosul e que é preciso encontrar uma solução para o comando do bloco até janeiro, quando assume a Argentina.

Para o tucano, a Venezuela entrou no bloco por meio de um golpe, já que o Paraguai, que não concordava com a entrada, estava suspenso. "Para entrar, é preciso que os outros membros concordem unanimemente."

REFERENDO

As declarações foram feitas após o chanceler brasileiro receber dois adversários de Nicolás Maduro —Luis Florido, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional, e Carlos Vecchio.

Na entrevista, Serra reiterou sua posição a favor do referendo revogatório contra o chavista ainda neste ano, como quer a oposição venezuelana. Se a consulta for feita até 10 de janeiro e o "sim" vencer, haverá novas eleições no país.

"Todos os países democráticos do mundo devem pressionar o governo venezuelano para que realize no prazo mais breve possível esse referendo", disse.

Questionado sobre se uma consulta à população a respeito da presidência também deveria ocorrer no Brasil, Serra negou e argumentou que seria muito complexo esse processo em um país do tamanho do Brasil.

"Uma vez até me fizeram uma proposta para eu, como senador, apresentar projeto de recall, revogatório, mas é muito complexo num país que tem 5.500 municípios, 27 estados, é muito complexo."

Com informações de São Paulo.


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