Folha de S. Paulo


Brasil convoca embaixador uruguaio após insinuação de compra de voto

O Itamaraty convocou o embaixador uruguaio no Brasil, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para dar esclarecimentos sobre declarações do chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa.

O governo brasileiro ficou irritado com Novoa, que disse na semana passada ter se incomodado com a oferta do Brasil de acordos comerciais "como que querendo comprar o voto do Uruguai" para impedir que a Venezuela assuma a presidência do Mercosul.

O embaixador uruguaio foi recebido pelo secretário geral do Itamaraty, Marcos Galvão, que transmitiu a "insatisfação" do governo brasileiro com as declarações e pediu explicações.

A percepção do governo brasileiro é de que as declarações de Novoa foram focadas no público interno, principalmente na Frente Ampla, que apoia o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Mesmo assim, foram consideradas "inaceitáveis".

O Itamaraty admite que será difícil convencer o Uruguai de impedir a Venezuela de assumir a presidência do Mercosul. Mas afirmam que nem os brasileiros, nem os paraguaios irão ceder.

Boris Vergara/Xinhua
(160805) -- CARACAS, agosto 5, 2016 (Xinhua) -- Miembros de las Fuerzas Armadas de Venezuela participan en el izamiento de la bandera del Mercado Común del Sur (Mercosur) en la fachada de la Casa Amarilla, en Caracas, capital de Venezuela, el 5 de agosto de 2016. (Xinhua/Boris Vergara) (bv) (egp) (dp)
Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas apesar de impasse no bloco

Na semana passada, Novoa afirmou que o presidente Tabaré Vázquez ficou "muito incomodado" com uma proposta do governo brasileiro para, segundo Novoa, "comprar o voto do Uruguai" no debate que envolve a presidência venezuelana do Mercosul.

As informações foram reveladas pelo jornal uruguaio "El País" nesta terça-feira (16).

"Não nos agradou muito que o chanceler [José] Serra viera ao Uruguai nos dizer -publicamente, por isso eu digo- que vinham com a pretensão de suspender a transferência [da presidência do Mercosul do Uruguai para a Venezuela] e que, se suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai", afirmou Novoa durante um encontro da Comissão de Assuntos Internacionais da Congresso uruguaio, no último dia 10, de acordo com o jornal.

CRISE

O Mercosul está sem um líder há 15 dias, desde que o Uruguai (único país que defende a Venezuela) deu por encerrado seu período na presidência do bloco.

Brasil, Paraguai e Argentina se opõem ao presidente venezuelano Nicolás Maduro com a justificativa de que seu governo não respeita direitos humanos, mantendo presos políticos de oposição.

Esses três países avaliam ainda a possibilidade de "rebaixar" a Venezuela dentro do Mercosul para impedir que o país assuma a presidência.

Serra já defendeu uma "presidência-tampão" até que a Argentina —a próxima, pela ordem alfabética— assuma o bloco.

Enquanto não tiver um líder, o Mercosul poderá ter suas negociações internacionais com terceiros atrasadas, a implementação de acordos firmados com outros países congeladas e não fechar novas parcerias.


Endereço da página:

Links no texto: