Folha de S. Paulo


Oferta do Brasil por voto anti-Caracas incomodou Uruguai, diz chanceler

O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, afirmou que o presidente Tabaré Vázquez ficou "muito incomodado" com uma proposta do governo brasileiro para, segundo Novoa, "comprar o voto do Uruguai" no debate que envolve a presidência venezuelana do Mercosul.

As informações foram reveladas pelo jornal uruguaio "El País" nesta terça-feira (16).

"Não nos agradou muito que o chanceler [José] Serra tenha vindo ao Uruguai nos dizer —publicamente, por isso eu digo— que vinham com a pretensão de suspender a transferência [da presidência do Mercosul do Uruguai para a Venezuela] e que, se suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai", afirmou Novoa durante um encontro da Comissão de Assuntos Internacionais do Congresso uruguaio, no último dia 10, de acordo com o jornal.

Boris Vergara/Xinhua
(160805) -- CARACAS, agosto 5, 2016 (Xinhua) -- Miembros de las Fuerzas Armadas de Venezuela participan en el izamiento de la bandera del Mercado Común del Sur (Mercosur) en la fachada de la Casa Amarilla, en Caracas, capital de Venezuela, el 5 de agosto de 2016. (Xinhua/Boris Vergara) (bv) (egp) (dp)
Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas apesar de impasse no bloco

Serra chegou ao Uruguai no dia 5 de julho para se reunir com seu homólogo uruguaio e o presidente Vázquez. Em uma entrevista coletiva, o chanceler brasileiro afirmou que o Brasil faria "uma grande ofensiva" comercial na África subsaariana e no Irã e que desejava levar o Uruguai como "sócio".

Segundo disse Novoa ao Parlamento uruguaio, essa atitude "incomodou muito" Vázquez: "O presidente disse clara e firmemente: o Uruguai vai cumprir com a norma e vai convocar a mudança da presidência".

Procurado, o Itamaraty não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.

CRISE

O Mercosul está sem um líder há 15 dias, desde que o Uruguai (único país que defende a Venezuela) deu por encerrado seu período na presidência do bloco.

Brasil, Paraguai e Argentina se opõem ao presidente venezuelano Nicolás Maduro com a justificativa de que seu governo não respeita direitos humanos, mantendo presos políticos de oposição.

Esses três países avaliam ainda a possibilidade de "rebaixar" a Venezuela dentro do Mercosul para impedir que o país assuma a presidência.

Serra já defendeu uma "presidência-tampão" até que a Argentina —a próxima, pela ordem alfabética— assuma o bloco.

Enquanto não tiver um líder, o Mercosul poderá ter suas negociações internacionais com terceiros atrasadas, a implementação de acordos firmados com outros países congeladas e não fechar novas parcerias.


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