Folha de S. Paulo


Pressão de republicanos e imprensa sobre Donald Trump tem efeito dúbio

Uma carta aberta assinada por 50 importantes nomes republicanos nas áreas de segurança nacional e política externa contra Donald Trump foi o mais recente golpe na campanha do candidato do partido à Casa Branca.

No texto, os especialistas —grande parte deles funcionários do governo de George W. Bush (2001-2009)— dizem que o empresário seria o presidente mais "imprudente" do país e colocaria em risco a segurança dos EUA.

A resistência de parte dos republicanos, que sempre esteve presente na campanha de Trump, parece ter se intensificado após a convenção que oficializou sua candidatura, no último mês.

O fogo amigo se soma a um posicionamento contrário ao empresário cada vez mais evidente na imprensa americana, mesmo entre publicações conservadoras relevantes.

Especialistas, no entanto, divergem sobre o real impacto da campanha para desqualificar Trump no desempenho do candidato em novembro.

Para David Boaz, do Instituto Cato, é provável que ações como a carta dos 50 republicanos ou manifestações públicas de importantes membros do partido —como o artigo da senadora Susan Collins ao "Washington Post" que declara voto contra o empresário— prejudiquem Trump com eleitores brancos com alto grau de escolaridade.

"Mas esse é um grupo no qual ele já tem menos apoio que Mitt Romney em 2012. Então vai ser difícil ele piorar sua situação com essa parte do eleitorado, a não ser que republicanos mais proeminentes se pronunciem contra ele."

Michael Barone, especialista do conservador American Enterprise Institute, diz que a carta pode reforçar, entre eleitores que prefiram um republicano, o sentimento de que o Trump não é confiável na política externa.

Há, contudo, quem acredite que a pressão dos companheiros de sigla e de parte da mídia pode ter um efeito contrário. Isso porque reforçaria o perfil de alguém fora da política tradicional de Trump, que lhe rende votos.

"Como ele é visto como o azarão da eleição, quanto mais ele for criticado e ridicularizado por poderosos na política e na mídia, mais é provável que o americano médio comece a se identificar com ele e sua causa", diz Patrick Basham, diretor do centro de estudos Democracy Institute.

O argumento é contestado por Boaz, que afirma que Trump precisará de mais do que a imagem de "outsider" para se tornar presidente.

"Trump teve sucesso ao concorrer nas primárias contra políticos experientes, mas agora precisa expandir seus atrativos. Nas primárias, 13 milhões votaram nele, agora ele precisa de 65 milhões."

Uma pesquisa ABC News/Washington Post feita na semana anterior à convenção republicana, em julho, com 1.003 pessoas, mostra em números o desafio de Trump: 55% disseram preferir um candidato com experiência na política, contra 41% que querem alguém "de fora".

DESISTÊNCIA

Outra sondagem, Reuters/Ipsos, divulgada nesta quarta (10), mostrou que 44% dos eleitores acham que Trump deveria desistir da disputa.

Foram ouvidas 1.162 pessoas registradas entre os dias 5 e 8, e a margem de erro é de três pontos percentuais.

Quando o recorte é feito só entre os republicanos (396), um em cada cinco quer que o empresário saia da corrida (mas a margem de erro é maior, de seis pontos).

Diante dos números, os esforços feitos por parte dos republicanos e da mídia para frear Trump devem continuar.

O editor-chefe do "Washington Post", Cameron Barr, disse em entrevista recente ao "New York Times" que o desequilíbrio na cobertura não é criado pelos jornais. "O candidato que está criando." Em 22 de julho, o Post publicou editorial dizendo que Trump é uma "ameaça singular" à democracia americana.

Carolyn Ryan, editora de política do "New York Times", concorda. Na mesma reportagem, ela defende que o comportamento e o perfil de Trump exigem uma "cobertura ampla e agressiva".


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