Folha de S. Paulo


Após criticar o Ocidente, Erdogan viaja à Rússia para se aproximar de Putin

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, viaja na terça-feira a São Petersburgo com o objetivo de quebrar oficialmente o gelo com seu colega russo, Vladimir Putin, depois de criticar os governos ocidentais pela falta de apoio após a tentativa de golpe de 15 de julho.

Esta visita, a primeira ao exterior do líder turco após o golpe de Estado frustrado, é feita depois de uma reconciliação facilitada pelas desculpas pedidas por Erdogan - "perdão", segundo Moscou - pela destruição em novembro por caças turcos de um avião de combate russo perto da fronteira com a Síria.

Murat Cetinmuhurdar/Reuters
Turkey's President Tayyip Erdogan addresses the audience during a meeting at the Presidential Palace in Ankara, Turkey, August 4, 2016. Murat Cetinmuhurdar/Presidential Palace/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS PICTURE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE. TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: ANK02
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, discursa no palácio presidencial em Ancara

O incidente levou a uma dura troca de acusações entre os dois países. Por isso foi surpreendente a rapidez com a qual Moscou aceitou a mão estendida de Ancara.

Erdogan comemorou a reação da Rússia após o golpe frustrado. Putin foi um dos primeiros dirigentes estrangeiros a telefoná-lo para condenar o golpe, sem demonstrar reações como as dos líderes europeus com a repressão que se seguiu.

"A reação russa contrasta muito com as dos aliados ocidentais da Turquia", estimou Jeffrey Mankoff, do Center for Strategic and International Studies (CSIS) de Washington.

As relações entre Turquia e Rússia - países que disputam uma influência nas regiões estratégica do mar Negro e Oriente Médio - nunca foram fáceis.

No entanto, antes da crise pela destruição do avião russo, os dois países conseguiram "compartimentar" os litígios em temas como Síria ou Ucrânia para se concentrar na cooperação estratégica como o gasoduto TurkStream à Europa, a construção de uma central nuclear russa na Turquia ou o objetivo de 100 bilhões de dólares (90 bilhões de euros) de comércio bilateral.

INCERTEZAS

A aliança Putin-Erdogan foi construída com base em uma amizade viril entre dois líderes combativos, ambos sexagenários, que restauraram a honra de seus países após a crise econômica e mostraram pouco respeito aos direitos humanos.

Erdogan expressou com clareza seu sentimento de abandono em relação aos Estados Unidos e à União Europeia, o que abre possibilidades para as relações turco-russas.

"Embora estas relações tenham suas próprias incertezas, a deterioração das relações com as potências ocidentais pode acelerar uma aproximação", disse um analista do European Council on Foreign Relations.

A Turquia quer reparar os danos causados pelas sanções russas aos seus setores da agricultura, da construção e do turismo.

Segundo estatísticas russas, os intercâmbios comerciais caíram 43%, a U$ 6,1 bilhões entre janeiro e maio do ano atual.

A chegada de turistas russos caiu 93% interanual em junho.

Se o turismo for reativado, poderá voltar à mesa o projeto de gasoduto TurkStream, que deve levar 31,5 bilhões de metros cúbicos anuais à Turquia passando pelo mar Negro, e a central nuclear de Akkuyu.

Para o conselheiro de política externa de Putin, Yuri Ushkalov, o fato de Erdogan viajar à Rússia com tanta rapidez depois da tentativa de golpe mostra a importância que Ancara confere as suas relações com Moscou.

Erdogan, citado pela imprensa turca nesta segunda-feira, declarou à agência russa TASS que espera que sua visita vire "uma nova página". Em um gesto de boa vontade, o site oficial russo de informação Sputnik, bloqueado desde abril, era novamente acessível.


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