Folha de S. Paulo


Serra defende presidência-tampão do Mercosul até Argentina assumir bloco

O ministro José Serra (Relações Exteriores) afirmou nesta terça-feira (2) que a Venezuela "não tem condições" de assumir a presidência do Mercosul. O chanceler brasileiro defendeu a proposta da Argentina de criar de uma comissão informal de embaixadores para comandar o bloco econômico até o fim do ano, quando Buenos Aires assumiria a presidência rotativa.

Segundo Serra, o governo da Venezuela não tem as credenciais necessárias para presidir o grupo até mesmo por não ser uma democracia.

"O presidente da Venezuela [Nicolás Maduro] não tem condições para assumir a presidência do Mercosul. Primeiro porque a Venezuela não cumpriu as exigências existentes, os pré-requisitos para integrar o Mercosul. Houve um equívoco no passado nesta matéria. Segundo porque, evidentemente, alguém que não consegue governar o seu país não vai poder levar o Mercosul para um bom caminho", afirmou Serra, após acompanhar uma palestra de ministros do Supremo, em Brasília.

"Portanto, nós achamos razoável que se faça uma comissão de embaixadores que representam os países do Mercosul para informalmente dirigir o bloco até o fim do ano", completou.
O ministro disse que a ideia da comissão informal partiu do presidente da Argentina, Mauricio Macri, e está sendo costurada com integrantes do bloco.

Miguel Rojo - 5.jul.2016/AFP
O ministro das Relações Exteriores José Serra durante coletiva de imprensa em Montevidéu
O ministro das Relações Exteriores José Serra durante coletiva de imprensa em Montevidéu

"Não está decidido ainda, mas apoiamos, parece uma posição sensata. Veja, o Mercosul é uma zona de livre comércio de integração econômica. Nós temos que ficar pensando agora em ativar as economias, exportar mais, melhorar o intercâmbio, melhorar o emprego. Não podemos ficar presos a situações absurdas de um país que não é uma democracia".

O chanceler disse que Paraguai, Argentina e Brasil compartilham "mais ou menos" o mesmo ponto de vista, sendo que o Uruguai tem posição mais intermediária, "por problemas políticos internos".

Serra disse que têm ocorrido conversas bilaterais entre os integrantes do bloco para definir os próximo passos. "Nessa semana que passou, estive em Lima, conversei bastante com o chanceler uruguaio [Rodolfo Nin Novoa]. Conversamos com a chanceler argentina [Susana Malcorra] por telefone. Temos intensificado os contatos. Nós queremos é botar o Mercosul para frente, não paralisar, para trás, para o lado", disse.

"Não podemos ficar presos a situações absurdas de um país que não é uma democracia. Democracia não tem preso político. Um país que está imerso em grandes dificuldades, nós nos propusemos em ajudar com medicamentos, nós até torcermos para que haja entendimento nacional na Venezuela, cooperarmos o máximo nessa direção. Não dá para desviar a atenção de aspectos tão importantes da integração econômica em função da dinâmica dos problemas de um governo autoritário na Venezuela", afirmou.

O conflito entre os países se arrasta há meses e se agravou no fim da semana passada, depois de o Uruguai deixar a Presidência rotativa e a Venezuela se autoproclamar no comando do grupo.

Com o fim do período de seis meses à frente do bloco, o Uruguai informou que não via argumentos jurídicos para não transferir o comando a Caracas.


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