Folha de S. Paulo


EUA enviaram US$ 400 mi ao Irã após libertação de 4 americanos, diz jornal

O governo dos EUA enviou secretamente, por avião, o equivalente a US$ 400 milhões (R$ 1,3 bilhão) em dinheiro vivo para o Irã, em um voo que coincidiu com o anúncio da libertação de quatro americanos presos no país persa, segundo reportagem divulgada nesta terça-feira (2) pelo "The Wall Street Journal".

O diário americano cita como fontes funcionários dos EUA e de governos da Europa informados sobre a operação.

Segundo esses funcionários, cédulas de francos suíços, euros e outras moedas foram empilhadas em estrados de madeira dentro de um avião cargueiro sem identificação. O dinheiro foi obtido pelos EUA em bancos da Holanda e da Suíça, de acordo com o "WSJ".

Pelos embargos americanos vigentes contra o Irã, nenhuma transação comercial com Teerã pode ser feita em dólares, e as sanções dificultam o acesso dos iranianos ao sistema bancário global.

Esse montante representava a primeira parcela de um acerto de US$ 1,7 bilhão (R$ 5,5 bilhões) que o governo de Barack Obama havia fechado com Teerã para encerrar um impasse de décadas sobre um fracassado acordo de armas assinado pouco antes da Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o xá iraniano Reza Pahlevi.

O jornal lembra que o fim dessa disputa comercial também coincidiu com o início da implementação do acordo nuclear entre Washington, Teerã e outras potências atômicas.

Em 17 de janeiro deste ano, Obama afirmou: "Com o acordo nuclear concluído e os prisioneiros soltos, era a hora certa de também resolver essa disputa". O presidente, porém, não mencionou em seu discurso o envio dos US$ 400 milhões.

O prisioneiro mais conhecido entre os libertados pelo Irã em janeiro era o jornalista Jason Rezaian, então correspondente do jornal "The Washington Post" em Teerã. Ele havia sido capturado em julho de 2014 e condenado em novembro de 2015 por suposta espionagem e propaganda contra o governo iraniano.

A mulher de Rezaian, a também jornalista Yeganeh Salehi, também chegou a ser detida junto com ele, mas foi liberada dias depois.

WASHINGTON NEGA 'FIANÇA'
Ouvidos pelo "WSJ", funcionários do governo americano negaram relação entre o envio dos US$ 400 milhões e a libertação dos prisioneiros.

"As negociações do acordo foram completamente separadas das conversas sobre o retorno dos cidadãos americanos", disse John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado.

Funcionários em Washington reconhecem, porém, que os negociadores iranianos queriam dinheiro no acordo dos prisioneiros para mostrar algum ganho concreto.

À época, a imprensa oficial iraniana citou membros da Defesa do país descrevendo este pagamento como uma fiança.

A chancelaria iraniana não respondeu aos pedidos de entrevista do "WSJ".


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