Folha de S. Paulo


Hillary Clinton é oficializada candidata do Partido Democrata à Casa Branca

Após tentar e perder para Barack Obama em 2008, Hillary Clinton, 68, foi oficializada nesta terça-feira (26) candidata democrata à Casa Branca e se tornou a primeira mulher a concorrer à Presidência dos EUA por um dos dois partidos majoritários.

A advogada nascida em Chicago e formada pela Universidade Yale, mãe de Chelsea, mulher do ex-presidente Bill Clinton, ex-senadora (2001-09) e ex-secretária de Estado (2009-13) chega à marca histórica, porém, como uma das candidatas mais odiadas das últimas décadas.

Para reverter esse quadro, aposta em seu status inédito, lembrado em breve mensagem de agradecimento via telão, ao fim do evento desta terça, com uma expressão comum nos EUA sobre os limites ao avanço feminino: "Acabamos de criar a maior rachadura no telhado de vidro" [que retém as mulheres].

Alex Wong/Getty Images/AFP
A líder na Câmara, Nancy Pelosi, e o governador de Califórnia, Jerry Brown, participam da contagem
A líder na Câmara, Nancy Pelosi, e o governador de Califórnia, Jerry Brown, participam da contagem

Transformar a rachadura em cacos, porém, não será fácil. Na véspera, partidários de Bernie Sanders, seu adversário nas prévias da legenda até a reta final, ensaiaram uma "guerra civil": vaiaram menções a Hillary e gritaram em coro o nome do senador.

A hostilidade foi mais tímida nesta terça, quando o próprio Sanders, em gesto simbólico, sacramentou a ex-adversária "como candidata do Partido Democrata a presidente dos Estados Unidos".

A agora presidenciável assistiu de casa, em Chappaqua (Estado de Nova York), à oficialização de sua candidatura após receber os votos de 2.807 delegados (membros do partido que representam o voto popular nas prévias em seus Estados), 425 a mais que o necessário, quase mil a mais que o ex-rival.

Superada a primeira e disputada etapa da campanha, pesará contra Hillary a pior taxa de aprovação no partido em ao menos dez eleições presidenciais: 55,6%, patamar similar só ao de Donald Trump, o adversário republicano rejeitado por 57,1%, na média das pesquisas.

CREDIBILIDADE

O rechaço à ex-chanceler é resultado de desconfiança.

A imagem de "desonesta" grudou em 67% do eleitorado, segundo sondagem CBS/ "New York Times" divulgada em meados de julho. É um número em ascensão: um mês antes, 62% relatavam não confiar em Hillary.
Nesse meio tempo, livrou-se de ser indiciada por usar servidores privados quando era secretária de Estado e lidava com e-mails sensíveis.

Ganhou, contudo, uma reprimenda do diretor do FBI por ser "extremamente descuidada", e a ausência de sanções fortaleceu a ideia de que os Clinton estão acima da lei. Acima da lei e sob as asas de Wall Street, em outra percepção popular que assombra a presidenciável.

Esse é um dos principais gargalos com o eleitorado pró-Sanders. Agora a seu lado, o senador de Vermont passou a campanha fustigando Hillary para que ela divulgasse a íntegra das 94 palestras que deu em instituições financeiras, de 2013 e 2015.

Um dos contratantes, Goldman Sachs, no rol de vilões da crise dos anos 2000, pagou-lhe US$ 675 mil pelo pacote de três discursos. "Deve ser algo shakespeariano", ironizou Sanders em março.

Mesmo os delegados pró-Hillary concordam que ela tem de resolver suas questões de credibilidade para não arriscar uma derrota para Trump em novembro.

Para Kelly Jacobs, delegada do Mississippi que veste a camisa de Hillary -ou um vestido com estampa do casal Barack e Michelle Obama e chapéu verde-limão com o nome da candidata em letras prateadas- é preciso pragmatismo.

Hillary pode contar "umas mentirinhas", mas ainda é, a seu ver, o nome mais qualificado para governar o país.

Jacobs também vê sexismo popular: "Todo mundo em Washington faz coisa errada", mas Hillary pagaria o pato por ser mulher e cobiçar o cargo mais alto do país, diz.
A visão da delegada, contudo, não é unânime.

No início de julho, a possibilidade de Hillary perder para Trump era de 22%, nas contas do estatístico Nate Silver. Há dez dias, o analista famoso por acertar o resultado eleitoral de 2008 em 49 dos 50 Estados previa para o empresário chances 33,7%.

Hoje, Hillary segue na frente, nas projeções do estatístico, mas sem conforto: Trump tem 46,2% de chances, contra 53,7% da ex-chanceler.


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