Quando os bispos poloneses enviaram uma carta convidando jovens católicos para comparecer ao encontro internacional que ocorrerá na Polônia nesta semana, o nome do papa Francisco não foi citado.
Por outro lado, os bispos mencionaram João Paulo 2º, o pontífice que se naturalizou polonês e tem status de ícone no país por inspirar a nação a se levantar contra o regime comunista. João Paulo, que morreu em 2005, foi canonizado em 2014.
Enquanto os bispos dizem que Francisco –e não o fantasma de seu predecessor– será o protagonista dos eventos da Jornada Mundial da Juventude, a omissão reflete um senso de inquietação entre o clero polonês sobre os pedidos do papa argentino por uma igreja mais inclusiva e piedosa, uma mensagem que contrasta com o modelo de pregação de muitas igrejas do país que sediará o evento.
Ricardo Moraes/Reuters | ||
O papa Francisco acena para multidão no Rio, durante viagem da Jornada Mundial da Juventude |
A Polônia segue como uma das nações mais católicas e conservadoras da Europa. Cerca de 90% da população declara fidelidade à igreja, e o governo defende abertamente que valores cristãos estejam presentes na vida diária e na política. "Estou absolutamente convencido de que o encontro entre Francisco e a igreja da Polônia será um desafio para ambos os lados", afirmou Jaroslaw Makowski, um teólogo polonês liberal.
O Vaticano, por sua vez, espera que centenas de milhares de jovens de todo o mundo compareçam ao encontro com o papa durante a visita de cinco dias que começa nesta quarta-feira (27), na cidade de Cracóvia, onde João Paulo foi arcebispo antes de se tornar papa, em 1978.
Funcionários do Vaticano esperam que Francisco surpreenda os jovens poloneses, assim como fez na última Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, há três anos.
Entretanto, embora críticas diretas ao pontífice argentino raramente sejam ouvidas, bispos da Polônia discordam publicamente de suas visões em assuntos como homossexualidade e divórcio, em um eco dos interesses conservadores que ele ameaça atenuar nos ensinamentos católicos.
Um comentarista conservador local, Tomasz Terlikowski, disse que a popularidade de João Paulo 2º na Polônia era guiada, ao menos em partes, por uma fidelidade tardia à doutrina.
"O Dia Mundial da Juventude serve como prova de que a igreja no Ocidente está perdendo os jovens devido ao que é oferecido a eles", escreveu Terlikowski na revista semanal "Do Rzeczy". "Os jovens estão deixando a igreja porque o que é oferecido a eles é igual ao que eles encontram no mundo secular, apenas velada em incenso. Francisco conseguirá inspirar a juventude assim como João Paulo fez? Depende do que ele pedir a eles."
Os eventos do Dia Mundial da Juventude são um esforço do Vaticano para inspirar católicos num período em que secularismo e escândalos sexuais e financeiros seguem levando pessoas a abandonar a igreja.