Folha de S. Paulo


Confronto entre gangues faz disparar homicídios em El Salvador

Apesar de a guerra civil ter terminado nos anos 1990, El Salvador vive novamente um dos momentos mais violentos de sua história. Desta vez, o confronto é entre gangues formadas nos EUA por imigrantes fugidos do conflito em seu país natal.

Deportados em massa de volta para a América Central durante a gestão Bill Clinton (1993-2001) formaram as agrupações Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio-18.

Desde então, as duas facções vivem um confronto que ultrapassa fronteiras e soma mais de 70 mil membros em El Salvador, Honduras e Guatemala -países cujos índices de homicídios estão entre os mais altos do mundo.

Jose Cabezas - 8 jul. 2016 /Reuters
Membros de gangue presos pela polícia por homicídio e terrorismo em San Salvador
Membros de gangue presos pela polícia por homicídio e terrorismo em San Salvador

O rastro de violência e sangue deixado por elas é a principal motivação citada pelos imigrantes que cruzam a fronteira dos EUA, legal e ilegalmente, todos os dias.

Apesar de se tratar de um problema de mais de 20 anos, o conflito vem se acirrando desde 2014, quando uma tentativa de estabelecer trégua entre os dois bandos, mediada pelo governo, falhou. A taxa de homicídios do país foi, então, para as alturas.

Com apenas 6,3 milhões de habitantes, El Salvador passou a ter um assassinato por hora durante os meses entre junho e agosto de 2015, por exemplo.

A partir daí, a taxa oficial de mortos se estabilizou em mais de cem homicídios para cada 100 mil habitantes, um recorde na região. Hoje, trata-se de um dos lugares mais violentos do mundo depois das zonas consideradas efetivamente em guerra.

As estimativas oficiais indicam que mais de metade do território esteja sob influência desses grupos, que além das mortes por disputa de território, extorquem comerciantes, fazendeiros e transportadores de mercadorias.

Paralelamente, as gangues desenvolveram uma espécie de marca com muito apelo à juventude.

Seus integrantes têm o corpo coberto de tatuagens, além de identificarem-se também com um conjunto de músicas e de ícones populares jovens.

FAROL

Em meio à turbulenta violência do país, um meio jornalístico vem se destacando por dar publicidade às atrocidades ocorridas em território salvadorenho.

Trata-se do site "El Faro", vencedor do prêmio de excelência da Fundación Nuevo Periodismo, criada por Gabriel García Márquez, na edição deste ano.

Um de seus jornalistas, Óscar Martínez, autor de dois livros sobre imigração e violência na região, também ganhou, na semana passada, o prestigiado prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade Columbia, de Nova York.

"Aqui em El Salvador ninguém comenta nossos prêmios. Eles não são notícia em nenhum meio, o que dá a medida da seriedade da nossa situação", disse à Folha um dos fundadores do site, o jornalista Carlos Dada.

"Mas eu fico feliz de saber que a repercussão internacional tem sido grande, e isso é importante para que a realidade seja conhecida."


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