Folha de S. Paulo


Na convenção republicana, cofundador do PayPal diz ter orgulho de ser gay

As palavras ecoaram no que poderia ser descrita como a "Disneylândia" do conservadorismo americano, a Convenção Nacional Republicana: "Tenho orgulho de ser gay".

O autor da frase, Peter Thiel, é um peixe fora d'água no Vale do Silício, onde é um raro conservador na bolha progressista, e também entre republicanos, por ser assumidamente gay.

Mario Anzuoni/Reuters
O cofundador do PayPal, Peter Thiel, discursa na Convenção Republicana em Cleveland nesta quinta
O cofundador do PayPal, Peter Thiel, discursa na Convenção Republicana em Cleveland nesta quinta

História foi feita num partido em geral associado à defesa do que alguns de seus membros julgam ser "família tradicional" (homem e mulher).

Cofundador do PayPal e membro do conselho do Facebook, Thiel foi o terceiro homossexual escalado para discursar desde a primeira edição do evento, em 1856.

Antes dele, vieram Jim Kolbe e Steve Fong.

O ex-deputado Kolbe subiu ao palco em 2000 e nada disse sobre orientação sexual. Quatro anos antes, o ativista Fong falou por menos de um minuto. Nenhum deles ocupou o horário nobre.

Thiel, por sua vez, foi uma das grandes atrações de quinta-feira (21), último e mais importante dos quatro dias de convenção.

Horas depois, o presidenciável Donald Trump declarou que lutaria pela segurança da "comunidade LGBTQ", numa inclusão incomum —e bem vista por ativistas— da letra Q (de "queers") no acrônimo.

Os republicanos, contudo, não estão unificados sobre o tema.

Outro convidado da noite foi o presidente da evangélica Liberty University, com histórico de discriminar a comunidade LGBT —de vetar estudantes transgêneros em banheiros e dormitórios do sexo com o qual se identificam a deletar trechos sobre homossexualidade em livros de psicologia.

E tem a plataforma aprovada pelos republicanos em 2016, guinada à direita numa legenda já tida como escudeira dos valores conservadores dos EUA.

Diz um parágrafo do documento: "Como George Washington nos ensinou, religião e moralidade são apoios indispensáveis para uma sociedade livre".

Trata-se do trecho que defende as "Leis de Liberdade Religiosa" sancionadas em vários Estados americanos nos últimos meses.

Uma delas teve aval do vice de Donald Trump, o governador de Indiana, Mike Pence. A lei permitia que estabelecimentos comerciais negassem atendimento a gays se achassem que isso poderia ferir a fé de seus donos e funcionários.

Pence só voltou atrás e propôs uma versão mais branda do texto após grita nacional, com várias empresas ameaçando boicotar o Estado.

O PayPal de Thiel congelou 400 vagas na Carolina do Norte, depois de o Estado adotar legislação similar. O empresário, no entanto, mostrou-se pessoalmente pouco engajado com causas afins.

"Quando eu era criança, o grande debate era sobre como derrotar a União Soviética. E ganhamos. Agora, nos dizem que o grande debate é sobre quem tem o direito de usar qual banheiro. Isso é uma distração dos nossos problemas reais. Quem liga?"

Ele não saiu do armário por vontade própria: o site Gawker revelou sua orientação sexual em 2007. As duas partes não se bicam faz anos. Neste ano, a revista "Forbes" revelou que Thiel financiou, por trás dos panos, um processo milionário do lutador Hulk Hogan contra o Gawker, por uma "sex tape" vazada que o site publicou.


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