Folha de S. Paulo


Conflito interno sobre Donald Trump dá tom à Convenção Republicana

"Não consigo me ver amando ninguém que não seja você", diz a letra de "Happy Together", tocada na abertura da Convenção Nacional Republicana, nesta segunda (18).

Não parecia adequada para definir o sentimento da plateia sobre Donald Trump.

Carlo Allegri/Reuters
O empresário Willie Robertson, estrela do programa
O empresário Willie Robertson, estrela do programa "Duck Dynasty,", faz discurso na convenção

Num momento em que o partido deveria mostrar união, o que se viu em Cleveland (Ohio), sede da convenção de 2016, foi o princípio de um motim anti-Trump.

Junte-se a isso a ausência de vários caciques republicanos (todo o clã Bush ficou de fora, assim como os ex-presidenciáveis Mitt Romney e John McCain) e a arena com metade dos lugares vagos.

Um ponto alto da campanha, o evento deveria marcar a consagração do presidenciável do partido. Um clima de "guerra civil", porém, instalou-se quando grupos anti-Trump entraram em ação.

Encarregado de comandar uma votação das regras partidárias que valerão pelos próximos quatro anos, o deputado Steve Womack (Arkansas) chegou a deixar o palco frente à gritaria de delegados —contra e pró-Trump.

Cada um dos 50 Estados é representado por uma delegação, e ao menos nove delas, segundo o site Politico, estavam dispostas a defender a revisão das normas.

O movimento contrário ao magnata tentou até o último minuto manobra para desobrigar seus representantes a respaldar o bilionário.

Os berros de protesto levaram a uma segunda votação nominal. A maioria rechaçou a dissidência com clamores de "queremos Trump".

Delegada da Virgínia, Laurie Tryfiates usava boné com a bandeira do Estado, que traz o lema em latim "sic temper tyrannis", ilustrada por um homem (a virtude) pisoteando outro (a tirania).

Ela conta à Folha que viu o inverso acontecer na arena onde ficam as delegações.

"É hora de deixar isso para trás" rebate Chris Daniel, da delegação texana, que combinou de ir em peso com um chapéu de caubói e camisa da bandeira estadual.

Em evento paralelo, o presidente da Câmara, Paul Ryan, disse que Trump não é seu "tipo de conservador", mas antes ele do que a democrata Hillary Clinton.

A convenção serve para os 2.472 delegados (representantes dos eleitores no partido) da legenda referendarem o nome mais votado das prévias em seus Estados. É nela que os republicanos ratificam sua plataforma, como os manifestos partidários no Brasil.

Um comitê formulou o documento, que encampou algumas das propostas mais radicais de Trump e foi além: declara o carvão como "energia limpa", enquadra a pornografia como "ameaça pública" e regride em direitos LGBT.

A noite foi marcada ainda pelodiscurso da mulher de Trump, Melania, que contou um pouco da infância na Eslovênia e do processo para virar cidadã dos EUA. "O maior privilégio na Terra", disse.


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