Folha de S. Paulo


Tiroteio nos EUA mata três policiais; ex-'marine' é identificado como autor

Três policiais foram mortos e ao menos outros três feridos no domingo (17), em Baton Rouge (Louisiana). A 12 km da cena, um ambulante que vendia CDs foi baleado por um agente branco, 12 dias atrás.

A polícia identificou o estudante Gavin Eugene Long, 29, como autor dos disparos que mataram os policiais —um deles negro, assim como Long, segundo agências de notícias.

Morto no confronto, ele vestia máscara e roupa pretas. Não estava claro, até o início da noite deste domingo, o que o motivou a alvejar os policiais —ideologia ou crime comum.

A notícia do tiroteio bastou para acelerar a escalada de tensão racial no país, num mês de morte dos dois lados e embates violentos entre polícia e ativistas.

Long atuou nos Fuzileiros Navais (os "marines") entre 2005 e 2010 e foi enviado ao Iraque por cerca de seis meses.

Outro ex-veterano do Exército, que se dizia "aborrecido" com a morte de negros, executou cinco policiais no Texas, no início do mês. À época, o presidente Barack Obama afirmou que o país "não está tão dividido quanto alguns sugerem".

O presidente, que em quase oito anos na Casa Branca deu ao menos 16 declarações após chacinas com armas de fogo, desta vez frisou que pela segunda vez em duas semanas agentes da lei foram assassinados de forma "covarde e repreensível".

"Podemos não saber as razões deste ataque, mas quero deixar claro: não há justificativa para violência contra as forças de segurança. Nenhuma."

O ataque aconteceu próximo a um estabelecimento onde policiais costumam comprar café, numa via pública com postos de gasolina e lojas de desconto. A região é descrita como ponto de tráfico.

O site Broadcastify, que grava áudios de chamadas policiais, registrou o alerta de um policial: "Uma senhora veio aqui e disse que viu um sujeito de casaco e rifle atrás da loja".

Em seguida, um segundo agente reporta que um deles fora baleado. "Não houve papo, só bala", disse depois um porta-voz da corporação.

Vídeo enviado à WAFB, uma TV local, mostra a voz de uma mulher (não se sabe se a mesma) contando que viu "um mascarado que parecia um ninja".

Os dois virtuais candidatos à Casa Branca reagiram ao ataque.

O republicano Donald Trump, que depois do Texas acusou o grupo Black Lives Matter (vidas negras importam) de "dividir a América", continuou com a tese de "A" contra "B".

"Estamos tentando combater o Estado Islâmico, e nosso próprio povo está matando nossa polícia. O país está dividido e fora de controle", tuitou.

A democrata Hillary Clinton pregou a união. "Não devemos ser indiferentes uns aos outros. Devemos nos juntar para rejeitar a violência e fortalecer nossas comunidades."

BATON ROUGE

Com 230 mil residentes (55% negros), Baton Rouge vive sob tensão desde a morte do camelô Alton Sterling.

Na semana passada, a polícia anunciou a prisão de três suspeitos de planejar a morte de agentes. Um deles tinha 13 anos.

Dois dias antes, DeRay Mckesson, porta-voz do Black Lives Matter, foi detido num protesto em que a polícia, segundo ele, "estava provocando" o público, com armas à mostra.

Ao "New York Times", neste domingo (17), ele disse que "o movimento começou como um chamado contra a violência, e esse chamado continua".

Professor da Universidade de Louisiana, Christopher Tyson descreveu em editorial do jornal um conto de duas cidades.

Tem a parte onde ele vive, ao sul, onde seu pai "abriu um escritório antes de virar juiz". E tem a que Sterling vivia, no norte, "uma coleção antiga de estruturas negligenciadas".

"Há uma linha cortando Baton Rouge. É uma linha de cor, de classe. Uma linha pela qual você pode medir qual vida importa mais."

"Se este não for um momento definitivo para nós, para construir pontes e sair com uma voz unificada, então não sei o que seria", afirmou o prefeito da cidade, Kip Holden, que é negro.

Segundo o "Washington Post", 30 policiais já foram mortos em serviço em 2016, quase o dobro dos 16 assassinados no mesmo período de 2015.

No ano passado, agentes mataram ao menos 258 negros. Neste ano, até aqui, foram 129.


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