Folha de S. Paulo


Erdogan reage a tentativa de golpe na Turquia com prisões e ameaças

O primeiro dia após a tentativa frustrada de golpe
contra o governo da Turquia foi marcado pela forte reação do presidente Recep Tayyip Erdogan contra seus opositores, acusados por ele de promover o levante.

Um dos principais alvos foi o religioso Fethullah Gülen, um ex-aliado que se exilou em 1999 nos Estados Unidos e que, segundo Erdogan, teria sido uma das cabeças por trás do plano para depô-lo.

Em discurso para apoiadores neste sábado (17), o líder turco pediu que o presidente americano Barack Obama extradite o clérigo, uma exigência antiga que ele já havia reforçado em abril de 2015, quando foi eleito.

Em visita a Luxemburgo, o secretário de Estado dos EUA John Kerry afirmou que ainda não recebeu um pedido oficial de extradição, mas que, caso ele ocorra, será avaliado –desde que a Turquia apresente provas dos crimes do religioso.

"Nós sabemos que serão levantadas dúvidas sobre o sr. Gülen e obviamente convidamos o governo turco a nos mostrar qualquer evidência legítima que possa passar por escrutínio. [Se isso acontecer] os EUA irão aceitar as evidências e julgá-las apropriadamente", afirmou Kerry.

Em tom ameaçador, o primeiro-ministro Binali Yildirim, aliado de Erdgogan, afirmou mais cedo que que qualquer país que defendesse Gülen, não seria amigo e estaria em guerra com a Turquia.

Assim que surgiram as primeiras acusações, Gülen negou publicamente por meio de um comunicado o envolvimento na tentativa de golpe e levantou a possibilidade de que a trama, na verdade, não tenha passado de uma encenação de Erdogan para prender seus opositores.

"Há uma pequena chance, uma possibilidade, de que tenha sido um golpe encenado para fazer acusação [a opositores] na Justiça", afirmou, por meio de um tradutor, no Estado da Pensilvânia, onde mora. Ele, contudo, condenou a ação militar, que afirmou não ser uma alternativa legítima para tirar um governante do poder.

Mais cedo, poucas horas após conflitos que deixaram 265 mortos e derrotaram as forças insurgentes, o governo turco anunciou ter expurgado 2.745 juízes e prendido um magistrado da Suprema Corte do país, Alparslan Altan, por supostas ligações com Gülen.

Além disso, o governo anunciou ter prendido cerca de 2.800 militares, entre os quais dois generais de alta patente que teria comandado a tentativa de golpe.

No mesmo discurso em que pediu a extradição de Gülen, Erdogan afirmou que deve enviar para apreciação do Parlamento a proposta de implementar a pena de morte no país.


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