Folha de S. Paulo


Após tentativa de golpe, presidente diz ter retomado controle da Turquia

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse na madrugada deste sábado (16) que a situação do país está sob controle após horas de caos provocado pela tentativa de golpe feita pelas Forças Armadas.

Segundo o primeiro ministro turco Benali Yildirim, 161 pessoas morreram, mais de 1.400 ficaram feridas e mais de 2.800 militares foram presos. As autoridades ainda expurgaram 29 coronéis e cinco generais que supostamente teriam conspirado contra Erdogan, segundo a agência de notícias Anadolu

Mais cedo, o general Ümit Dündar –nomeado neste sábado (16) comandante interino do Estado-Maior das Forças Armadas, no lugar do general Hulusi Akar, que havia sido capturado pelos militares na sexta– disse que oficiais da Força Aérea, da polícia militar e de unidades blindadas (tanques) eram os principais envolvidos na tentativa de golpe.

Por volta das 7h30 locais (1h30 em Brasília) a situação começava a reverter para o lado do governo após forças aliadas e partidários do mandatário tentarem retomar as ruas ocupadas pelos militares golpistas. Porém, ainda era possível ouvir explosões em Ancara e Istambul.

Por volta das 10h locais (4h em Brasília), a agência Anadolu relatou que 200 soldados desarmados deixaram o quartel militar em Ancara e renderam-se à polícia. Às 8h30 locais (2h30 em Brasília), a agência disse também que o chefe das forças armadas turcas, o general Hulusi Akar, capturado na sexta (15) pelos golpistas, foi resgatado da base aérea de Akincilar, em Ancara, e levado para um local seguro.

ERDOGAN

Às 5h (23h de sexta em Brasília) Erdogan chegou ao aeroporto internacional Mustafa Kemal Atatürk, em Istambul, vindo de Marmaris, no mar Mediterrâneo. No terminal —alvo de um atentado que deixou 45 mortos em 28 de junho—, e foi recebido por milhares de seguidores.

No saguão, voltou a dizer que uma minoria das tropas esteve por trás do plano e afirmou que os participantes serão severamente punidos por seu governo. "Uma minoria dentro das Forças Armadas felizmente foi incapaz de fomentar a unidade turca. O que foi feito é uma rebelião e uma traição. Eles vão pagar muito caro por sua traição à Turquia."

Turquia

Erdogan afirmou que os golpistas devem voltar para o lugar de onde vieram. "A Turquia tem um governo e um presidente democraticamente eleitos. Não vamos abandonar nosso país a estes invasores. Isto vai acabar bem."

O mandatário disse que o primeiro-ministro turco, Binali Yildrim, deu a ordem de "erradicar" todos os que estejam atirando nas pessoas, em referência aos helicópteros usados pelos golpistas para atacar prédios estatais.

No início da madrugada, os militares dispararam desde a aeronave contra o quartel-general da polícia em Ancara. Segundo a agência de notícias Anadolu, pelo menos 17 policiais foram mortos baleados.

O movimento que tentou derrubar o presidente ainda atacou com bombas o Parlamento turco, onde 12 pessoas morreram, e atacaram os serviços de inteligência, a televisão estatal TRT e o controle do satélite Turksat.

Depois dos ataques aos prédios, Yildrim ordenou que caças F-16 derrubassem os helicópteros. Depois que um deles foi abatido pelos aliados de Erdogan, os insurgentes pousaram a maioria das aeronaves usadas por eles.

Às 6h30 (0h30 em Brasília), Erdogan fez um novo discurso à multidão na área das autoridades no aeroporto de Istambul e novamente ameaçou os militares que tentaram tirá-lo do poder. "As Forças Armadas precisam saber quem governa o país."

Nesta hora, o tráfego aéreo no aeroporto havia sido retomado e parte dos postos de controles colocados pelos golpistas haviam sido levantados em Istambul.

MANIFESTAÇÕES

Apesar de os ataques aéreos terem parado, a situação continua tensa em Ancara e Istambul, a maior cidade turca. Houve explosões também na praça Taksim, a principal da cidade, mas não há informações sobre feridos.

Perto das 3h locais (21h em Brasília), os partidários do presidente reocuparam o canal estatal TRT, que havia sido invadido pelos militares e onde eles fizeram seu pronunciamento dizendo que tinham assumido o governo.

O grupo Conselho de Paz no País disse ter agido devido ao "crescimento do terrorismo e do regime autocrático", em referência a Erdogan, há 13 anos no poder, e "para proteger a ordem democrática e os direitos humanos".

A programação da emissora foi retomada. Por outro lado, o sinal da CNN Türk foi cortado depois que os golpistas entraram na emissora, que transmitiu a primeira mensagem de Erdogan durante o golpe. A emissora só voltou à programação normal às 6h.

Em sua declaração, feita ao canal pelo aplicativo FaceTime, ele atribuiu o golpe ao líder religioso Fettulah Gülen. Nos últimos anos, o presidente acusou o clérigo diversas vezes de organizar ações contra ele.

O Hizmet, ligado a Gülen, nega qualquer envolvimento na ação e repudiou o golpe, assim como os principais partidos de oposição ao presidente.

A agência de notícias Anadolu informou que as autoridades turcas deverão fazer uma reunião de emergência neste sábado, em que devem discutir as consequências desta tentativa de golpe.


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