Folha de S. Paulo


Condenado por terrorismo na França, professor da UFRJ é expulso do Brasil

O professor franco-argelino Adlène Hicheur, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), está sendo deportado do Brasil na noite desta sexta (15).

Ele ouviu de policiais federais que a medida foi determinada pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Em nota oficial, o Ministério da Justiça afirmou que a decisão convinha "ao interesse nacional".

A pasta disse que "autorizou a deportação sumária" de Hicheur "acolhendo recomendação do departamento de Polícia Federal fundada no Estatuto do Estrangeiro e respectivo regulamento (...) tendo em vista o indeferimento do pedido de prorrogação de autorização de trabalho no país".

Hicheur foi investigado e condenado por "associação com criminosos com vistas de planejar um atentado terrorista" na França em 2009, segundo publicou em janeiro à revista "Época". Ele cumpriu dois anos e sete meses de prisão no país por "associação com criminosos com vistas de planejar um atentado terrorista".

Em 2013, o físico franco-argelino chegou ao Brasil para trabalhar como professor-visitante na UFRJ. Até o fim de 2014, ele foi bolsista do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Na França, o professor recebeu em janeiro o apoio de um comitê internacional de mais de 300 membros, entre eles um Prêmio Nobel de Física.

Frequentador de uma mesquita no Rio, Hicheur passou a ser monitorado desde o ano passado por policiais federais da Divisão Antiterrorismo e por agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Mesmo com a condenação na França, não foi encontrado qualquer indício de atuação terrorista do professor no Brasil.

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Adlene Hicheur, físico franco-argelino condenado por terrorismo na França (Foto: Reprodução)
Adlène Hicheur, físico e professor da UFRJ condenado por terrorismo na França em 2009

Quando a PF chegou a sua casa, na manhã desta sexta, Hicheur fazia uma conferência por Skype com outros professores. Os agentes deram a ele uma hora para arrumar suas roupas e decidir o que levar.

Adlène Hicheur chegará na França dois dias depois da ação terrorista em Nice que até o momento deixou 84 pessoas mortas.

"Estamos preocupados com a medida e com a integridade física do professor. A gente sabe da série de ações restritivas de direitos que vêm sendo adotadas pelo governo francês neste momento e não sabemos o que pode acontecer com ele", afirmou o reitor da UFRJ, Roberto Leher, que deixou o aeroporto pouco antes das 20h.

Em janeiro, em carta divulgada por intermédio do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Hicheur classificou as informações sobre sua ligação com a rede terrorista Al Qaeda como "antigas e já esclarecidas".

"Eu fui preso pela polícia francesa no fim de 2009 e a única justificativa desta minha detenção foram minhas visitas aos chamados sites islâmicos subversivos. Fui privado da minha liberdade por dois anos apenas com base nisso", disse ele, que nasceu na Argélia e se naturalizou francês.

JULGAMENTO

No tribunal, um dos trunfos da acusação foi a mensagem em que o físico sugere um ataque a uma base do Exército onde eram treinados soldados para o Afeganistão –Hicheur é opositor ferrenho das intervenções ocidentais naquele país e no Iraque.

Ao ser detido pela polícia em 2009 perto de Lyon (leste da França), na casa dos pais, o pesquisador tinha em mãos 13 mil euros (R$ 57 mil) em espécie, o que alimentou suspeitas.

A defesa diz que ele pretendia pagar a construção de uma casa em sua cidade natal, Sétif, Argélia –o contrato foi mostrado à Justiça.

CARREIRA

Hicheur é considerado brilhante pelos colegas. Fez doutorado na cidade francesa de Annecy (na equipe de Lees) e pós-doutorado no Reino Unido.

Até ser preso, lecionava na prestigiosa Escola Politécnica de Lausanne e era pesquisador associado à Organização Europeia de Pesquisa Nuclear, em Genebra. Desde 2015, está proibido de entrar na Suíça.


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