Folha de S. Paulo


Movimento contrário a presidente turco nega envolvimento em golpe

O Hizmet, movimento civil de oposição ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, negou envolvimento na tentativa de golpe de Estado que tomou conta do país nesta sexta (15).

Três horas após os militares ocuparem as ruas, Erdogan fez uma declaração à emissora de TV CNN Türk e acusou o líder religioso Fettullah Gülen, criador do movimento, de estar por trás da tomada de poder.

Na manhã de sábado (16) –madrugada no Brasil–, o presidente desafiou o líder religioso do grupo a retornar ao país. "Se você tem coragem, volte à Turquia", disse.

Minutos depois, o próprio clérigo respondeu ao mandatário e desafeto, condenando o golpe e negando qualquer participação. "Como alguém que sofreu sob múltiplos golpes militares nas últimas cinco décadas, é fortemente insultante ser acusado de ter qualquer relação com esta tentativa", disse.

"Não somos a favor de nenhum tipo de golpe civil-militar. Defendemos a separação de poderes, os valores democráticos e os direitos humanos", afirmou Kamil Ergin, do Centro Cultural Brasil Turquia, ligado ao Hizmet.

A Aliança por Valores Compartilhados, entidade considerada porta-voz do grupo, também divulgou uma nota declarando que "comentários dos círculos pró-Erdogan sobre o movimento são altamente irresponsáveis".

O Hizmet afirma que ainda tenta entender a situação no país e que espera que a Turquia não seja tomada pela violência –Erdogan pediu aos turcos que fossem às ruas para desafiar os militares. "Esperamos que não seja como na praça Tahrir, no Egito", disse Ergin.

Na visão do movimento, o governo de Erdogan já era fruto de um golpe. "O que parece é que um governo ilegal está tentando ser derrubado de maneira também ilegal."

O HIZMET

Analistas consideram o Hizmet, também conhecido como movimento Gülen, o maior e mais institucionalizado grupo civil islâmico turco.

No Brasil, ele está ligado ao Centro Cultural Brasil Turquia, a uma escola na zona sul de São Paulo e à Câmara de Comércio e Indústria Turco-Brasileira.

O grupo não possui uma estrutura formal que coordene seus membros, presentes por livre associação, o que torna quase impossível estimar o número de participantes.

A socióloga Helen Ebaugh, no livro "The Gülen Movement: A Sociological Analysis of a Civic Movement Rooted in Moderate Islam" (2010), estima que entre 7 milhões e 10 milhões de turcos façam parte do Hizmet –e que de 8 milhões a 10 milhões de pessoas participem em outros países.

Criado no final da década de 60 pelo imã e pregador Gülen, o grupo diz ter como objetivo promover a coexistência pacífica entre religiões e culturas, a democracia e a liberdade de pensamento por meio de organizações sem fins lucrativos, como centros culturais, escolas (incluindo universidades), jornais, canais de TV, hospitais e fundações.

Nos últimos três anos, o presidente Erdogan acusou diversas vezes lideranças do Hizmet, de quem já foi aliado, de tramar um golpe de Estado contra seu governo.


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