Folha de S. Paulo


Capital da Riviera Francesa, Nice faz parte de roteiro de luxo da Europa

Símbolo de Nice, a Promenade des Anglais, local onde ocorreu o atentado que deixou mais de 80 mortos, costuma ficar abarrotada no verão. Muitos europeus têm o hábito de visitar a cidade e aproveitam pra tomar sol.

Patins e bicicletas disputam espaço com pedestres, banhistas –principalmente idosos em tons de pele alaranjado– banham-se nas praias de pedra com águas geladas de tom azul-celeste.

Valery Hache/ AFP
Vista aérea da Promenade des Anglais, símbolo do balneário de Nice, na Riviera Francesa
Vista aérea da Promenade des Anglais, símbolo do balneário de Nice, na Riviera Francesa

E as cadeiras azuis, que nas fotos de ontem apareciam tombadas junto aos corpos, sempre ficam cheias. Viradas pro mar, elas são a senha para o "dolce far niente" dessa cidade que caminha num passo mais lento e é famosa por sua beleza e ostentação.

Os aviões que passam rente à praia para pousar no aeroporto ali do lado parecem querer já dar um gostinho disso aos visitantes que chegam.

Em uma das pontas da Promenade, está o famoso e imponente hotel de luxo Negresco, ponto turístico da cidade. Na outra ponta, um castelo numa colina tem vista para uma marina cheia de iates. Lojas do calibre de Chanel estão a poucos passos dali.

Ao lado de Mônaco, Cannes e Saint Tropez, Nice faz parte de um roteiro de luxo, de gente endinheirada que circula em carros conversíveis e esbanja em restaurantes à beira-mar. E talvez justamente por isso sua avenida-símbolo, de praia, sol e deleite, tenha virado alvo.

Valery Hache/ AFP
Vista aérea da Promenade des Anglais, símbolo do balneário de Nice, na Riviera Francesa
Vista aérea da Promenade des Anglais, símbolo do balneário de Nice, na Riviera Francesa

HISTÓRICA RIVIERA

Nice, situada perto da fronteira com a Itália e o principado de Mônaco, atrai todos os anos quatro milhões de visitantes.

No entanto, a cidade registra um número de desemprego superior à média francesa (15% em 2013, contra 10% em toda a França).

Esta cidade conta com 342 mil habitantes, o que a converte na quinta mais populosa da França depois de Paris, Marselha, Lyon e Toulouse.

Editoria de arte/Folhapress
Atentado em Nice - arte

A Promenade des Anglais é o lugar mais simbólico desta cidade conhecida mundialmente como a capital da Riviera Francesa.

Nice é um importante destino turístico desde o século 19 e a avenida costeira deve seu nome a um reverendo inglês e ao seu cunhado que criaram a partir de 1824 um primeiro caminho de terra, que foi se ampliando e embelezando nas décadas seguintes.

Em 1860, Nice, até o momento vinculada ao reino da Sardenha, passou para território francês.

Na "Belle Epoque", Nice vive seu apogeu graças a um público cosmopolita. Muitos aristocratas frequentavam a cidade, atraídos por seus invernos leves. Em 1880, inspirado no modelo inglês, um cassino de formas orientais foi erguido em um píer sobre o mar.

LUXO E CULTURA

A partir dos anos 1920, o turismo de verão começou a aparecer na Côte d' Azur, impulsionado por ilustres expatriados americanos como o escritor John Dos Passos.

Centenas de edifícios, alguns deles art deco, foram construídos entre as duas guerras mundiais na cidade, que acolhe muitos artistas, músicos e escritores.

Hotéis de luxo, cassinos e palácios abriram suas portas. Em 1912, o romeno Henri Negresco ordenou a construção do palácio mais mítico de Nice. Pouco depois, o inglês Henry Ruhl criou um hotel que leva seu nome, onde atualmente se situa o Méridien.

Outros hotéis aumentaram a reputação do Passeio dos Ingleses, como o Palácio do Mediterrâneo, cuja fachada está catalogada como monumento histórico, assim como a cúpula do Negresco.

A Promenade des Anglais também abriga eventos festivos como o famoso carnaval ou a batalha das flores.

RADICALIZAÇÃO

Apesar do seu apelo turístico internacional, a região de Nice é conhecida há anos por ser um foco de radicalização islâmica, onde um dos principais recrutadores franceses de extremistas sempre operou.

No mundo do extremismo francês, Nice é conhecida como a terra natal de Omar Omsen, conhecido como Oumar Diaby, considerado pelos serviços antiterroristas como um importante recrutador de extremistas que desejam ir à Síria.

Omsen era próximo do Forsane Alizza, um grupo islamita dissolvido pelo governo em 2012.

Autor de vídeos de propaganda, este ex-delinquente franco-senegalês de 40 anos, que se autoproclamou imã em Nice, viajou à Síria em 2013, afirmando lutar nas fileiras do Jabat al-Nusra, o braço local da Al-Qaeda.

No verão passado circulou a notícia de sua morte em combate, mas no início de junho reapareceu em um programa do canal France 2, "Complément d'enquête". Foi divulgado então que tinha um acampamento na região de Latakia (noroeste), onde comanda uma unidade de 30 jovens franceses, em sua maioria originários de Nice.

Em março, o nome deste recrutador especialmente ativo na internet reapareceu após a detenção na região de Paris de um homem suspeito de querer efetuar "atos violentos" na França.


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