Folha de S. Paulo


Cameron se despede do governo e pede que Reino Unido fique próximo da UE

David Cameron participou nesta quarta-feira (13) da sua última sessão de perguntas e respostas do Parlamento como primeiro-ministro britânico.

Muito aplaudido pelos parlamentares, Cameron manteve um tom leve em sua despedida, com brincadeiras e comentários bem-humorados - e até uma citação ao grupo Monty Python. Ele recebeu elogios e críticas, mas conseguiu deixar o cargo em uma condição mais positiva do que muitos dos seus críticos esperavam.

Entre os parlamentares presentes na sessão de perguntas e respostas estava a nova premiê, Theresa May, que foi recebida com aplausos e gritos de apoio.

Após o encontro, Cameron teria uma programação "leve", conforme brincou durante a sessão. Ele deve se reunir com a rainha Elizabeth 2ª para oficializar sua renúncia e passar o governo para May.

SAÍDA SEM AFASTAMENTO

Cameron renunciou a seu cargo após ter sido derrotado no plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Em sua despedida, ele pediu que sua sucessora mantenha o Reino Unido o mais próximo possível da UE, mesmo após o rompimento.

"Meu conselho a minha sucessora, que é uma negociadora brilhante, é que devemos tentar ficar o mais próximos que pudermos da União Europeia para podermos nos beneficiar do comércio exterior, da cooperação e da segurança", disse.

Cameron ressaltou que o governo está trabalhando para que os cidadãos europeus possam continuar no Reino Unido após a separação, e que isso depende da reciprocidade a britânicos que vivem na Europa.

Segundo ele, "não há absolutamente nenhuma chance"! de cidadãos europeus serem deportados.

Frantzesco Kangaris/AFP
A nova premiê britânica, Theresa May, em entrevista concedida no fim de junho
A nova premiê britânica, Theresa May, em entrevista concedida no fim de junho

DESAFIOS

May vai assumir o cargo de primeira-ministra do Reino Unido no lugar de Cameron ainda nesta quarta-feira (13), e deve formar um governo com as tarefas monumentais de separar seu país da União Europeia e unir uma nação dividida.

May, ministra do Interior durante seis anos, é vista por seus apoiadores como alguém de pulso firme para conduzir a nação pelo chamado Brexit, o processo desestabilizador de desfiliação do bloco, será a segunda mulher no posto desde Margaret Thatcher, que deixou o poder 26 anos atrás.

"Acho que ontem, na mesa do gabinete, o sentimento era que temos nossa Angela Merkel", disse Jeremy Hunt, ministro da Saúde da equipe de Cameron, que se reuniu pela última vez na terça-feira, em referência à chanceler da Alemanha.

Merkel será a contrapartida mais importante de May no continente durante o processo de desfiliação britânica da UE. As duas mulheres são famosas por sua firmeza, seu pragmatismo e sua disciplina.

O rompimento do Reino Unido com a UE abalou o bloco que passou a integrar 43 anos atrás e colocou décadas de integração europeia em marcha à ré.

DIVISÃO TRABALHISTA

Enquanto os conservadores controlam o governo mesmo com a mudança de premiê, a oposição do Partido Trabalhista continua dividida.

A situação é tão complicada que Cameron ironizou a crise trabalhista na sessão de despedida, comparando o líder do partido, Jeremy Corbyn, a um personagem de um filme de comédia. "Ele me lembra o Cavaleiro Negro de 'Monty Python em Busca do Cálice Sagrado'. Ele foi chutado tantas vezes, mas diz 'continue, é apenas um ferimento superficial'", disse.

Um segundo candidato, o deputado Owen Smith, entrou na disputa pela liderança do Partido Trabalhista britânico, em desafio a Corbyn.

"Eu vou estar na eleição", afirmou o deputado, ex-ministro do Trabalho e da Previdência no gabinete da sombra de Corbyn, dois dias depois do anúncio da candidatura de sua colega Angela Eagle, responsável pela Economia no mesmo gabinete trabalhista e que foi ministra nos governos de Tony Blair e Gordon Brown.

"No final, vou apoiar o líder eleito, seja ele quem for. Mas espero que eu seja o líder", completou o deputado da circunscrição de Pontypridd (oeste).

Corbyn, eleito de maneira triunfal em setembro do ano passado pelos militantes, após a derrota dos trabalhistas nas últimas eleições, nunca foi aceito pelos dirigentes do partido, em particular os deputados, que o consideram muito esquerdista e incapaz de vencer as próximas legislativas.

As críticas aumentaram depois da vitória do Brexit, que muitos atribuem em parte ao fato de Corbyn não ter feito uma campanha intensa.

Depois do referendo, dois terços dos integrantes do gabinete da sombra apresentaram suas renúncias e 172 deputados trabalhistas votaram uma moção de censura.

Corbyn obteve na terça-feira uma vitória crucial contra os adversários, já que o comitê executivo do partido decidiu que ele pode ser candidato à reeleição sem a necessidade de obter o apoio de 50 parlamentares, o que talvez ele não conseguisse.


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