Folha de S. Paulo


Sanders fará comício junto a Hillary para anunciar apoio à democrata

Rival de Hillary Clinton na disputa pela candidatura do Partido Democrata à Casa Branca, o senador Bernie Sanders participará nesta terça (12) pela primeira vez de um comício ao lado da ex-secretária de Estado.

Segundo a imprensa americana, ele anunciará no evento seu apoio à adversária, um aguardado gesto pela união democrata a menos de duas semanas da convenção do partido, que deverá confirmar Hillary como a candidata na eleição geral de 8 de novembro.

Sanders está sob pressão da cúpula democrata para que verbalize seu apoio a Hillary desde que ela obteve o número necessário de delegados do partido para garantir a candidatura, no início do mês passado, após meses de embate acirrado entre os dois nas primárias estaduais.

O senador participará ao lado de Hillary de um comício em Portsmouth, no Estado de New Hampshire (nordeste), para "discutir o compromisso deles com a construção de uma América que é mais forte unida e uma economia que trabalha para todos, não apenas para os que estão no topo", diz o comunicado divulgado pelos pré-candidatos.

A formulação une temas centrais das duas campanhas: o slogan "Mais fortes juntos", de Hillary, e o programa contra a desigualdade social de Sanders, numa sinal da aproximação das agendas, após semanas de discretas negociações sobre a plataforma do partido.

Jonathan Alcorn/AFP
Democratic presidential candidate Senator Bernie Sanders speaks during a rally at Barker Hangar in Santa Monica, California on June 7, 2016. Sanders refused to concede defeat to Hillary Clinton late on June 7, vowing to
Senador Bernie Sanders discursa a apoiadores em Santa Monica, na Califórnia, em junho

O resultado das conversas começou a se tornar visível com algumas propostas recentes de Hillary. Entre elas, a gratuidade em universidades estaduais públicas para famílias com renda abaixo de US$ 125 mil (R$ 412 mil). Ainda que parcialmente, ela adota uma das principais promessas de Sanders, de tornar o ensino universitário gratuito para todos em instituições públicas.

No sábado (9), mais uma aproximação em outro tema central para Sanders: a saúde pública, em que ele defende assistência médica universal. Hillary exortou o Congresso a acrescentar uma "opção pública" no sistema de saúde em vigor, para ampliar o investimento em clínicas que oferecem assistência a populações de baixa renda. A "opção pública" é uma das prioridades do programa eleitoral de Sanders, que elogiou o apoio de Hillary.

"Parabenizo a secretária Clinton por essa iniciativa extremamente importante", disse Sanders em um comunicado. "Ela vai melhorar o tratamento médico e cortar custos de saúde. É um passo significativo adiante no objetivo de ter assistência de saúde para todos os americanos".

Ao abraçar ideias de Sanders e buscar uma plataforma comum com o rival democrata, Hillary espera consolidar uma posição unificada na convenção do partido e atrair simpatizantes do senador, especialmente os jovens. Muitos deles têm resistência a apoiar a ex-secretária de Estado por não considerá-la suficientemente progressista.

Desde a confirmação de Hillary como a candidata democrata, porém, tem havido um aumento no apoio dos "sanderistas" a ela, em grande parte movido por uma aversão ainda maior ao provável candidato republicano, Donald Trump. Segundo uma pesquisa da CBS/"Wall Street Journal", 45% dos simpatizantes de Sanders têm opinião positiva de Hillary, uma melhora em relação a maio (38%).

Embora tenha garantido a aprovação de algumas de suas ideias, como a elevação do salário mínimo, Sanders também sofreu derrotas no encontro do Comitê Nacional Democrata do último fim de semana, em Orlando, que discutiu emendas à plataforma do partido.

A maior delas foi o repúdio à proposta de bloquear a ratificação no Congresso da Parceria Transpacífico (TPP), o maior acordo regional de comércio da história e uma das principais iniciativas de estratégia geopolítica e econômica do atual presidente dos EUA, Barack Obama. Sanders considera o acordo "desastroso" por privilegiar os interesses das grandes empresas à custa dos trabalhadores.

Hillary demonstrou apoio ao TPP quando era secretária de Estado, mas mudou de posição durante a campanha, afirmando que o acordo não havia atingido o que ela esperava para garantir empregos e a segurança nacional.

O revés de Sanders em Orlando sugere que parte das tensões das primárias estará presente na Filadélfia, onde ocorrerá a convenção democrata, entre 25 e 28 de julho. Sanders já disse que votará em Hillary e fará o possível para ajudar a derrotar Donald Trump, mas até agora manteve-se relutante em expressar explicitamente seu apoio a Hillary, embora tenha indicado que está perto de fazê-lo.

"É justo dizer que a campanha de [Hillary] Clinton e nossa campanha estão se aproximando mais e mais", disse a repórteres no sábado.

New Hampshire, onde os dois participarão de seu primeiro comício juntos, tem significado tanto na disputa entre os dois quanto na campanha geral. Nas prévias, Sanders venceu no Estado com 22 pontos percentuais de diferença sobre Hillary. E New Hampshire é um "Estado-pêndulo", como são chamados aqueles onde não há vantagem histórica para nenhum dos dois partidos.

Em 2008, Obama ganhou no Estado com 54,38% dos votos. Em sua reeleição, em 2012, ele voltou a vencer no Estado, mas com um percentual menor, 51,9%.


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