Folha de S. Paulo


Venezuela abre fronteira por 12h e milhares cruzam em busca de comida

Manuel Hernandez/Reuters
Pessoas atravessam voltam à Venezuela após comprarem mantimentos em Cúcuta, na Colômbia
Pessoas atravessam voltam à Venezuela após comprarem mantimentos em Cúcuta, na Colômbia

Assolados pelo desabastecimento, venezuelanos aproveitaram neste domingo (10) a abertura excepcional da fronteira com a Colômbia para comprar alimentos e produtos básicos no país vizinho.

Segundo autoridades colombianas, mais de 35 mil passaram pela divisa. Foi a primeira vez que a Venezuela permitiu a travessia em larga escala desde agosto, quando o presidente Nicolás Maduro ordenou bloquear pontos de passagem sob a justificativa de combater o contrabando e o paramilitarismo.

O maior fluxo ocorreu no ponto fronteiriço de San Antonio Del Táchira, no Estado de Táchira, extremo oeste da Venezuela. O posto militar foi aberto às 6h locais por ordem do governador, o chavista José Gregorio Vielma Mora.

Milhares de venezuelanos cruzam fronteira com a Colômbia para comprar alimentos

Aglomerada desde a madrugada, a multidão obteve permissão para iniciar às 6h da manhã a travessia de 700 metros a pé, rumo ao Estado colombiano de Santander. Quem passava não precisava mostrar passaporte, apenas documento de identidade.

A ordem era para que voltassem à Venezuela até as 18h locais (19h em Brasília), quando a fronteira voltaria a ser fechada sem prazo.

Segundo jornalistas no local, as pessoas se dividiam entre euforia e preocupação pela falta de informação sobre a quantidade de produtos com que poderiam voltar. "Vim buscar leite para meus netos porque onde vivo não se consegue", disse Flor Guillén, 58, à agência Reuters.

"Para o governo está tudo bem, mas para nós, não", afirmou, citando a escassez generalizada atribuída ao modelo de controle chavista.

Ao chegar no lado colombiano, sob estrito monitoramento policial, alguns venezuelanos gritavam "terra santa" e "graças a Deus."

Venezuelanos atravessam fronteira para comprar comida

A primeira etapa de quem cruzava era trocar bolívares venezuelanos (ou dólares) por pesos colombianos nas casas de câmbio de Cúcuta, cidade fronteiriça de cerca de 650 mil habitantes. Em seguida, as pessoas abarrotavam mercados, lojas e farmácias.

"Estamos felizes porque temos mercado, na Venezuela não há nada, nem remédio. Maduro mente quando diz que não falta comida", disse à AFP Tulia Somaza, sob aplausos em um mercado.

"Os mortais como nós não têm nem sequer sabão para lavar roupa", afirmou Somaza, que não revelou a idade.

Fotos e vídeos nas redes sociais mostravam policiais colombianos ajudando venezuelanos a carregar compras.

Venezuela e Colômbia sempre tiveram relação oscilante, o que afeta a população em zonas economicamente ligadas. Há 11 meses, Maduro fechou a fronteira e deportou milhares de colombianos que viviam do lado venezuelano. Críticos o acusam de tentar tirar o foco da crise.

Na semana passada, centenas de venezuelanas furaram o bloqueio e cruzaram a fronteira em San Antonio Del Táchira. Não está claro quando haverá nova abertura.

ESFORÇO DE DIÁLOGO

O ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero (2004-2011) desembarcou em Caracas neste fim de semana para tentar relançar o esforço de diálogo entre o governo chavista de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana.

Fontes dos dois lados afirmam que pode haver contatos diretos entre as duas partes a partir desta terça-feira (12).

A oposição exige que o governo chavista pare de bloquear a atuação da Assembleia Nacional, que passou a ter maioria de oposição após as eleições de dezembro último, e permita uma consulta popular sobre a revogação do mandato de Maduro, com término em 2019, ainda neste ano para que haja nova eleição presidencial.

Já o governo cobra da oposição apoio à sua política econômica. Unasul e EUA apoiam o diálogo.


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