Folha de S. Paulo


No dia da independência argentina, papa diz que não se pode vender pátria

Na comemoração dos 200 anos da independência da Argentina, o papa Francisco enviou uma carta à população do país que, mais uma vez, alimentou os rumores de que a relação do pontífice com o presidente Mauricio Macri não vai bem.

No texto, o papa afirma que não se pode vender a pátria, o que foi interpretado como uma crítica ao governo, que está abrindo seu mercado para o capital estrangeiro.

AFP
Handout photo released by the Argentinian Presidency of Argentinian President Mauricio Macri (2-R, front), Argentinian First Lady Juliana Awada (R, front) and Spanish King Juan Carlos I (behind) as they attend a ceremony at the cathedral in Tucuman, Argentina on July 9, 2016, during the celebration of the bicentenary of the Argentinian Independence. / AFP PHOTO / PRESIDENCIA / HO / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
Com o rei Juan Carlos da Espanha (atrás), presidente da Argentina, Mauricio Macri, e a primeira-dama, Juliana Awada, participam de missa em Tucumán, norte do país, para celebrar independência

Na semana passada, Macri flexibilizou, por decreto, uma lei kirchnerista que restringia a compra de terras por pessoas de outros países. O objetivo é atrair investimentos internacionais.

"Nós, argentinos, usamos uma expressão, quando nos referimos a pessoas inescrupulosas: 'esse é capaz até de vender a mãe'; mas sabemos e sentimos profundamente no coração que a mãe não se vende, não se pode vendê-la... E também não se pode vender a mãe pátria", escreveu Francisco.

O papa pede ainda para que Deus cuide da Argentina, faça-a mais forte e a "defenda de todos os tipos de colonização". No país, a esquerda e os kirchneristas atacam Macri por estar se reaproximando dos Estados Unidos, após 12 anos de um gradual afastamento promovidos pelos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner.

A oposição celebrou o teor da carta do pontífice. Em um discurso proferido na noite de sexta (8), em cima de uma caminhonete estacionada diante de seu apartamento em Buenos Aires, Cristina se disse "impressionada" com o documento.

"Hoje, uma mensagem me impressionou muito. Acredito que ela chegou a todos os argentinos. É uma mensagem de Francisco, tão forte, que diz que a pátria, como a mãe, não se vende. A pátria se defende."

Macri não fez referência à carta do papa em seus discursos de comemoração do bicentenário. O governo diz que não há dificuldades na relação dos dois líderes. Na semana passada, em uma entrevista ao jornal "La Nación", Francisco afirmou não ter problemas com o presidente.

Como já vem fazendo, Macri usou sua fala, neste sábado (9), para criticar e responsabilizar sua antecessora, Cristina Kirchner, pelas dificuldades atuais. Afirmou que os reajustes nas tarifas, que chegam a 500% no caso da luz, foram necessários devido à precariedade em que encontrou a infraestrutura elétrica do país e pediu para que a população economize energia.

O chefe de Estado ainda solicitou empenho dos trabalhadores e estudantes. "Cada vez que um sindicato consegue reduzir uma jornada de trabalho, todos os demais argentinos assumem um custo, e isso não é bom."

Macri também fez referência aos casos de corrupção que supostamente envolvem Cristina e às denúncias de que os juízes atuam de modo parcial. "Encontramos um país muito castigado pela mentira e pela corrupção. (...) E nossos juízes têm que fazer [terminar com a impunidade] com equilíbrio."

Cristina está sendo processada por má administração de bem públicos e investigada sob suspeita de lavagem de dinheiro e falsificação de documentos. Ela acusa a Justiça de persegui-la, enquanto sua oposição diz que um dos juízes responsável pelo caso da lavagem de dinheiro a protege.


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