Folha de S. Paulo


Após 26 anos, Reino Unido deve voltar a ser governado por uma mulher

Vinte e seis anos depois de Margaret Thatcher deixar o cargo e após a renúncia pós-Brexit de David Cameron, o Reino Unido parece preparado para ser governado por sua segunda primeira-ministra.

A questão que consome Westminster é qual mulher conquistará a coroa. Theresa May, atual secretária do Interior, é a clara favorita depois de encabeçar com facilidade uma pesquisa preliminar entre parlamentares conservadores.

No entanto, entre seus quatro adversários iniciais, foi a ex-banqueira Andrea Leadsom que emergiu como a candidata com maiores chances de evitar que o forte começo de May se torne uma coroação.

Leadsom é pouco conhecida no Reino Unido e muito menos no exterior. No entanto, com seus pontos de vista eurocéticos, estilo sério, cabelos loiros e bolsa grande, seu apelo dentro de um partido ainda mergulhado na adoração a Thatcher é óbvio.

A secretária de Energia de 53 anos nunca ocupou um cargo de gabinete e sua trajetória como banqueira na City de Londres é controversa. Algumas pessoas afirmam que seu currículo não é tão "estelar" como seus defensores afirmam.

A ascensão notável de Leadsom, de secretária pouco conhecida a potencial primeira-ministra, vem alarmando os apoiadores de May, muitos dos quais planejam detê-la antes de uma segunda rodada de votação nesta quinta-feira (7).

Aparentemente, May deve ter poucos motivos para se preocupar. Ela ganhou a primeira rodada de votação entre parlamentares conservadores com 165 votos, o que representa metade do partido parlamentar e mais do que todos os seus quatro rivais combinados.

'CANDIDATA DA UNIDADE'

O caos político e econômico desatado pelo voto a favor do Brexit jogou a favor dos pontos fortes de uma secretária do Interior, que passou seis anos lidando, de forma competente, com questões como terrorismo e desordem urbana.

"Ela é a candidata da unidade", disse David Davis, ex-candidato à liderança conservadora. Como muitos parlamentares pró-Brexit conservadores, Davis está apoiando May, embora ela tenha sido uma discreta apoiadora da campanha pela permanência.

No entanto, o apoio de May à parte perdedora no referendo da UE é um ponto fraco que Leadsom vai explorar, se chegar à etapa final da disputa: uma votação entre os 125 mil integrantes do partido, em grande parte eurocéticos.

Leadsom, que terminou em segundo lugar com 66 votos na primeira etapa de votação entre parlamentares conservadores, defende que apenas um candidato pró-Brexit pode ser confiável para proporcionar o que ela descreve como as oportunidades oferecidas pelo voto de saída da UE.

"Vamos recuperar nossa liberdade", disse ela no lançamento da sua campanha. Peter Lilley, ex-ministro conservador eurocético, declarou que ela era "boa de verdade", uma política de convicções menos "ásperas" do que Thatcher.

FIM A ESPREITA E TRAJETÓRIA CONTROVERSA

A campanha de Leadsom pode terminar nesta quinta-feira se alguns dos apoiadores de May votarem taticamente no candidato que está em terceiro lugar —Michael Gove—, em uma estratégia para deixar a secretária da Energia de fora da lista final de dois competidores.

Alguns apoiadores de May estão preocupados com a possibilidade de que Leadsom, que tem o apoio do popular pró-Brexit Boris Johnson, ganhe o apoio da maioria dos membros do partido.

Mas a trajetória de Leadsom também está passando por um escrutínio maior, por parte da imprensa e dos membros conservadores do Parlamento.

Alguns de seus ex-colegas do Barclays sugeriram que ela exagerou seu papel no banco. Ela entrou como uma trader de dívidas, mas uma década depois se desentendeu com Bob Diamond, o presidente-executivo do banco, que queria que ela voltasse ao trabalho logo depois de haver dado à luz.

Ela havia descrito seus 25 anos na City como um período em que liderou "equipes enormes", mas Robert Stephens, um ex-colega no fundo de investimento Invesco Perpetual, disse ao "Times" que ela não "liderou nenhuma equipe, nem grande nem pequena, e com certeza não administrou nenhum fundo".

Leadsom, mãe de três filhos, também enfrentou críticas por transferir ativos para um fundo em benefício dos seus filhos, supostamente para evitar impostos sobre heranças, apesar de esse procedimento ser comum entre os ricos.

Enquanto isso, funcionários públicos que trabalharam com ela no Tesouro, onde passou um ano como ministra de serviços financeiros, consideraram o período em que ela esteve por lá "um desastre". Um deles afirmou que Leadsom foi "o pior ministro que já tivemos".

Leadsom afirmou que esse ponto de vista não batia com o "retorno que eu tive".

Os funcionários públicos insistem em afirmar que sua antiga chefe era lenta para captar detalhes e não era boa em tomar decisões. "Eles simplesmente não gostavam que lhe dissessem o que tinham de fazer", disse um defensor de Leadsom.


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