Folha de S. Paulo


Em 1º comício juntos, Obama exalta obstinação de Hillary e provoca Trump

Sob gritos de "Hillary, Hillary" que ele puxara pouco antes, o presidente dos EUA, Barack Obama, exaltou nesta terça (5) a obstinação e a experiência de Hillary Clinton, sua ex-chanceler (2009-13), no primeiro comício que os dois fizeram juntos nesta campanha eleitoral, em Charlotte, Carolina do Norte.

O local foi escolhido por se tratar de um Estado com numerosa população negra e sem preferência partidária clara : em 2008, escolheu Obama; já em 2012, preferiu o republicano Mitt Romney.

Sem paletó, com as mangas arregaçadas e ar descontraído, Obama começou falando de comida e esportes locais num discurso que incluiu uma série de alfinetadas em Donald Trump, virtual candidato republicano à Casa Branca, sem citá-lo.

"Qualquer um pode tuitar. Mas ninguém sabe de fato o que esse trabalho exige até sentar atrás da mesa [de presidente]", afirmou o democrata, em alusão às críticas do bilionário na rede social.

Com a popularidade em torno de 51%, considerada alta para o padrão americano, Obama tem terreno para assumir papel ativo na campanha por sua sucessão, algo que não ocorreu com seu antecessor, o republicano George W. Bush, que nesta altura tinha só 31% de aprovação.

Antes dele, o democrata Bill Clinton estava bem nas pesquisas, com 59% de aprovação, mas foi mantido fora da campanha pelo seu vice, Al Gore, que disputou a eleição presidencial e perdeu.

Avaliação final - Nível de aprovação dos presidentes dos EUA a seis meses de deixar o cargo, em %

Desde que anunciou seu apoio a Hillary há algumas semanas, Obama tem mostrado mais vontade de falar da campanha e assumir a dianteira dos ataques a Trump.

Ele tem também um capital político do qual a ex-senadora, vista com desconfiança por parte do eleitorado democrata, não dispõe.

"Eu acredito em Hillary", disse o presidente, descrevendo sua admiração por ela desde que foi sua adversária em 2008, na disputa pela candidatura democrata à Casa Branca, e depois secretária de Estado em seu governo.

O discurso contrasta com o da época em que os dois se enfrentaram, quando Hillary dizia que Obama seria um risco por sua inexperiência e Obama a acusava de jogar sujo —como Trump faz agora.

Oito anos depois, o tom mudou. "Nunca houve ninguém, homem ou mulher, mais qualificado para ocupar este cargo do que Hillary Clinton", disse Obama, levantando a plateia. "É a verdade."

LEGADO

Hillary também aproveitou para usar o ex-chefe como contraponto a Trump: "Este é um presidente que sabe como nos manter seguros e fortes. Comparem a Donald Trump. Vocês podem imaginá-lo no Salão Oval?", disse.

"O mundo acompanha cada palavra que nosso presidente diz. Trump é desqualificado e tem temperamento inadequado para presidente e comandante-em-chefe."

Em alusão ao slogan trumpista, "faça os EUA grandiosos de novo", Obama repetiu o mote que Hillary tem ressaltado durante sua campanha: "A escolha a ser feita é entre duas visões distintas dos EUA, entre um passado imaginário e o futuro".

Para o presidente o apoio a Hillary também tem a importância de conservar seu legado. A mensagem de que uma vitória de Hillary significa uma espécie de "terceiro mandato" de Obama tem sido tacitamente promovida pela campanha democrata.

Obama ainda fez referência a Trump ao falar de imigração, após exaltar a capacidade de Hillary de consertar um "sistema quebrado" para honrar "a tradição americana de ser um país com leis de imigrantes".

"O único plano de Trump é construir um muro mais alto. Isso não é plano." Quando a plateia começou a vaiar, o presidente interrompeu: "Não vaiem, votem".

Um dos trunfos de Obama é mobilizar as minorias, decisivas em suas vitórias.

Mas entre eleitores brancos sua influência pode pesar mais. Segundo uma pesquisa do YouGov/Economist, 87% dos eleitores não brancos que apoiam Obama preferem Hillary a Trump.

"Será difícil melhorar essa margem, mesmo com Obama", diz o instituto.

Entre os eleitores brancos, porém, Obama tem espaço para melhorar o apoio a Hillary: só 29% dos brancos que aprovam o presidente se inclinam a apoiar Hillary.


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