Folha de S. Paulo


Dia mais sangrento no Iraque em um ano revela nova estratégia do EI

Os dois atentados ocorridos na capital iraquiana, Bagdá, no domingo (3) mataram pelo menos 165 pessoas [segundo as agências de notícias Reuters e AP, o número de mortos é de 149, mas relatos dizem que ele pode passar de 200] e deixaram 225 feridos.

Um caminhão carregado de explosivos foi detonado no distrito de Karrada, enquanto muitas famílias faziam compras para celebrar o fim do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos.

Reuters
O que o mais sangrento dia no Iraque em 1 ano diz sobre a nova estratégia do Estado Islâmico. O atentado de domingo em Bagdá foi o mais sangrento do último ano
O atentado de domingo em Bagdá foi o mais sangrento do último ano

Socorristas disseram que famílias inteiras morreram e muitas vítimas sofreram queimaduras que tornam impossível o reconhecimento.

Em um comunicado na internet, o EI disse que o atentado foi feito por um iraniano como parte das operações de segurança "em curso".

O governo do Iraque decretou três dias de luto pelo ataque, o mais sangrento de Bagdá em um ano.

MOTIVOS

Segundo o correspondente da BBC no Oriente Médio, Jeremy Bowen, um dos motivos principais do ataque foi a perda do controle da cidade de Fallujah pelo Estado Islâmico.

A cidade, recuperada no mês passado pelo Exército iraquiano, era estratégica para o EI porque fica a apenas uma hora de Bagdá.

Desde que fora ocupada, no final de 2013, Fallujah serviu como um bastião para os jihadistas.

"Toda essa destruição e morte é uma mensagem clara do EI", disse Bowen.

"Eles podem ser derrotados no campo de batalha, mas respondem atacando onde mais dói: matando civis no coração desta e de outras capitais", acrescentou.

E esses ataques podem se repetir.

"O medo é que, à medida que o EI sofrer mais pressão militar, perdendo terreno, mais ataques como o de Bagdá ocorram", diz o correspondente.

SUCESSÃO DE VIOLÊNCIA

O ataque na capital iraquiana ocorreu em uma semana em que outras duas cidades foram alvos de atentados.

O primeiro ocorreu na terça-feira passada no aeroporto de Istambul, Turquia, quando homens primeiro dispararam contra civis e depois se explodiram, causando a morte de pelo menos 46 pessoas.

O segundo foi na sexta-feira em Dacca, Bangladesh, quando militantes extremistas entraram em um café e mataram pelo menos 20 pessoas.

Essa sucessão de atentados fora das fronteiras do califado do EI ocorre em um intervalo muito curto de tempo e surpreende.

Outro dado que chama atenção é que estes ataques, começando pelo de Paris e o de Bruxelas, foram feitos por grupos de militantes, e não por indivíduos solitários.

Adam B. Schiff, democrata integrante do Comitê Permanente de Inteligência do Senado americano, disse à rede de TV CBS no domingo que o Estado Islâmico "está perdendo muito território, mas ao mesmo tempo expandindo sua presença global".

A CIA já havia alertado para isso.

"Acreditamos que o EI vai intensificar sua campanha de terror global para manter seu domínio na agenda mundial sobre terrorismo", disse o diretor da CIA, John Brennan, em declarações ao Senado americano no mês passado, segundo jornal "The Washington Post".

Segundo o correspondente da BBC em Bagdá, "a guerra sectária começou em meio ao caos e violência que se instalou com a ocupação do Reino Unido e dos EUA no Iraque em 2003. Ela continua, mas é mais uma disputa de poder que religiosa."


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