Folha de S. Paulo


Cristina Kirchner é recebida com festa em Buenos Aires, apesar de escândalos

Os novos indícios de corrupção no governo de Cristina Kirchner (2007-2015) não enfraqueceram a militância de seus apoiadores, que encheram o estacionamento do aeroporto Jorge Newbery, em Buenos Aires, na noite deste sábado (2) para recebê-la.

Em meio a rojões, Cristina chegou na capital pouco depois das 22h vinda de El Calafate, cidade no sul do país onde tem hotéis. Ainda não se sabe qual será sua agenda na capital, mas, segundo a imprensa local, ela deverá se reunir com políticos para tentar rearticular sua base.

Emiliano Lasalvia/AFP
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner saúda a militância que a esperava no Buenos Aires
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner saúda a militância que a esperava em Buenos Aires

Nas últimas semanas, senadores e deputados abandonaram a coalizão da ex-chefe de Estado, a Frente para a Vitória, após denúncias de corrupção ganharem força. Membros do Partido Justicialista, do qual Cristina faz parte, cogitaram a hipótese de a sigla romper com ela.

O apoiadores da ex-mandatária, porém, não estão incomodados com as últimas notícias.

"A ação da Justiça é uma forma de tentar tirar a legitimidade do plano econômico de Cristina", disse o músico Nicolas Gonzalez, 34, que aguardava sob forte chuva a chegada da ex-mandatária. Para ele, as denúncias de tratam de uma "montagem jurídica e midiática".

Nesta semana, dois juízes de segunda instância pediram para que se investigue a ligação de Cristina com Lázaro Báez, preso há dois meses sob suspeita de lavagem de dinheiro. As empresas de Báez estão entre as que mais venceram licitações durante o kirchnerismo (2003-2015).

"A Justiça daqui é um partido político que está jogando a favor do governo", afirmou a professora universitária Gabriela Dunas, 52.

Segundo a docente, pode ter havido corrupção no governo kirchnerista, mas sem o envolvimento de Cristina. "Não defendemos quem roubou. Quem roubou deve ir preso. Defendemos o projeto político de Cristina, que deu poder ao povo e distribuiu riqueza. Os corruptos são traidores desse protejo."

O traidor, para Dunas, é o secretário de obras do kirchnerismo (2003-2015), José López, que foi detido em junho tentando esconder US$ 8,9 milhões em espécie em um convento na Grande Buenos Aires.

Esta é a segunda vez desde que deixou a Casa Rosada, em dezembro, que Cristina viaja à capital. Na primeira, em abril, esteve na cidade porque havia sido convocada pela Justiça para depor sobre a venda de dólares no mercado futuro a preços inferiores aos de mercado —caso que gerou um prejuízo de 53 bilhões de pesos (R$ 11 bilhões) ao Estado e no qual está sendo processada. Na ocasião, também foi recebida por milhares de pessoas no aeroporto.

Cristina mora hoje na província de Santa Cruz (reduto do kirchnerismo, localizado no extremo sul do país) e passa seu tempo entre as cidades de Río Gallegos e El Calafate.

A ex-dirigente tem evitado aparições em público e fala apenas através das redes sociais, por onde se defende das acusações e ataca o presidente Mauricio Macri.


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