Folha de S. Paulo


Favorito, Boris Johnson desiste de disputar posto de premiê britânico

Mary Turner/AFP
Boris Johnson (à direita) e o secretário de Justiça Michael Gove em coletiva de imprensa no domingo (24)
Boris Johnson (à direita) e o secretário de Justiça Michael Gove em coletiva de imprensa no domingo (24)

Uma traição na cúpula do Partido Conservador embaralhou o processo de sucessão do primeiro-ministro britânico, David Cameron, ao levar à desistência do então favorito ao posto, o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, nesta quinta-feira (30).

O nome de Johnson, líder da campanha pelo "Brexit" (a saída do Reino Unido da União Europeia), tinha ganhado impulso após o resultado do plebiscito do último dia 23 e era esperado que ele confirmasse que concorreria à liderança dos conservadores -e, consequentemente, ao posto de premiê- na manhã desta quinta.

Ao invés disso, ele usou a coletiva de imprensa convocada para a divulgação da candidatura para anunciar sua desistência, causando surpresa.

Segundo ele, o próximo líder conservador deverá unificar o partido e garantir a importância do Reino Unido no mundo. "Após consultar meus colegas e diante das circunstâncias no Parlamento, concluí que essa pessoa não pode ser eu", afirmou.

A decisão, contudo, veio após o secretário de Justiça Michael Gove, que era cotado para coordenar a campanha de Johnson, não só deixar de apoiá-lo como ele próprio se lançar como candidato.

"Boris é uma pessoa maravilhosa e impressionante, mas eu cheguei à conclusão, nos últimos dias, de que ele não é capaz de construir aquela equipe e aquela unidade [que os conservadores precisam]", afirmou Gove.

Em maio, Gove havia dito que não gostaria de disputar a liderança do partido e que havia outras pessoas "mais bem preparadas" do que ele.

A relação já havia azedado entre os dois na quarta (29), após o vazamento de um e-mail da mulher de Gove, Sarah Vine, no qual ela o orientava a buscar garantias específicas sobre seu futuro num gabinete de Johnson antes de confirmar seu apoio ao ex-prefeito de Londres.

Ao anunciar a desistência, Johnson fez referência à frase de Brutus no clássico "Júlio César" de Shakespeare -que versa sobre poder e traição-, dizendo que agora é hora não de lutar contra a maré da história, mas "aproveitar a maré e navegar em direção à fortuna".

O deputado conservador Nigel Evans, no entanto, traçou, à BBC, um paralelo mais contemporâneo para o caso de Johnson e Gove: "Isso faz [a série sobre intriga política] 'House of Cards' parecer [o infantil] 'Teletubbies'".

DISPUTA

Sem Johnson, há agora cinco candidatos disputando a liderança dos conservadores. Os favoritos são a secretária do Interior, Theresa May, 59, e Gove, 48. Além deles estão concorrendo o secretário do Trabalho e da Previdência, Stephen Crabb, 43, o ex-secretário de Defesa Liam Fox, 54, e a secretária de Energia e Mudanças Climáticas, Andrea Leadsom, 53.

Os parlamentares conservadores vão definir dois finalistas. Por fim, será o voto dos mais de 100 mil integrantes do partido que escolherá o próximo líder da sigla, a ser anunciado em 9 de setembro.

O vencedor assumirá o posto de primeiro-ministro e tocará o processo de saída britânica da União Europeia -que pode durar dois anos.


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