Folha de S. Paulo


Escócia deve votar independência do Reino Unido, diz primeira-ministra

Há grande probabilidade de a Escócia lançar um segundo plebiscito sobre a independência do Reino Unido, disse a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (24), após votação em que o Reino Unido optou pela saída da União Europeia.

Sturgeon ainda afirmou que fará o que for necessário para manter a Escócia dentro do bloco econômico. "É uma afirmação do óbvio que a opção de um segundo plebiscito deve estar na mesa", disse a repórteres.

AFP
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Na Escócia, que já havia realizado um plebiscito pela independência em relação ao Reino Unido em 2014, a opção pela permanência na UE na votação desta quinta-feira (23) venceu com 62% dos votos, contra 38% a favor da saída.

O resultado contrasta com os números da votação no Reino Unido como um todo, onde a saída da UE prevaleceu com 52% de votos a favor e 48% contra.

De acordo com a líder do Partido Nacional Escocês (SNP), houve "uma mudança significativa" em relação à votação sobre a independência da Escócia em 2014. "Como as coisas estão, a Escócia enfrenta a perspectiva de ser retirada da UE contra sua vontade. Me parece que é democraticamente inaceitável".

Sturgeon ainda disse que pretende "tomar todos os passos possíveis e explorar todas as opções para dar efeito a como as pessoas na Escócia votaram. Em outras palavras, para assegurar a continuidade de nosso lugar na UE e no mercado único", afirmou.

BREXIT

A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um ultranacionalista, dia 16. Até então, a saída levava ligeira vantagem na margem de erro.

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Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE —sinal de quão acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições gerais de 2015.

Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.

O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.

EFEITO DOMINÓ

Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.

O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.

União Europeia e Reino Unido

Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.

Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.

A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.

Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.

Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.

O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam" empregos.

Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.

Resultado Brexit


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