Folha de S. Paulo


Derrotado em plebiscito, premiê britânico renuncia ao cargo

Stefan Wermuth/Reuters
Defensor da permanência no bloco, primeiro-ministro britânico anuncia que irá deixar o cargo
Defensor da permanência no bloco, primeiro-ministro britânico anuncia que irá deixar o cargo

Uma hora depois de encerrada a contagem dos 17,4 milhões de votos que garantiram o histórico rompimento do Reino Unido com a União Europeia (UE), o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que vai renunciar ao cargo.

A escolha do novo premiê britânico, contudo, deve acontecer somente em outubro, quando o Partido Conservador se reúne para apontar o novo líder.

Cameron, que abraçou a campanha pela permanência no bloco europeu, afirmou na manhã desta sexta-feira (24) que o país precisa de outro líder para conduzir as negociações que vão selar a saída dos britânicos.

"Eu lutei na campanha [do plebiscito] do jeito que sei, de cabeça, corpo e alma. O país exige uma nova liderança. [...] Os britânicos fizeram uma escolha muito clara e o Reino Unido precisa de uma nova liderança. Como primeiro-ministro vou fazer tudo que posso para segurar o navio durante as próximas semanas e meses. Mas eu não acho que seria certo para mim ser o capitão que orienta nosso país para seu próximo destino.", afirmou, ao lado da mulher.

A negociação da ruptura –o Brexit, fusão das palavras "saída" e "britânica" em inglês– deve levar dois anos e precisa ser referendada não apenas pelo Parlamento britânico como também pelo Conselho Europeu.

Antes de anunciar sua renúncia, Cameron fez um breve balanço dos seus seis anos no comando do Reino Unido.

O premiê tentou acalmar o mercado financeiro e também os 3 milhões de imigrantes europeus que vivem no Reino Unido, garantindo que não haverá mudanças imediatas.

"Asseguro aos mercados que nossa economia é fundamentalmente forte. Não haverá mudanças imediatas na forma como as pessoas viajam e como as mercadorias circulam".

O resultado do plebiscito abalou mercados financeiros e provocou uma onda de choque e incredulidade global.

A consulta popular registrou índice histórico de comparecimento -72% do eleitorado- e recorde de 46,5 milhões de eleitores registrados. Do total de votos válidos, o Brexit obtve 52%.

"Os do lado dos derrotados, eu inclusive, devemos lutar para que funcione. Acho que podemos ser um modelo de democracia", afirmou Cameron.

PROCESSO DE SAÍDA

Cameron disse que vai pessoalmente a Bruxelas na próxima semana explicar a decisão do Reino Unido à UE.

Nesta sexta, em Bruxelas (Bélgica), o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que até o fim da negociação e a formalização dos termos de saída dos britânicos do bloco, o Reino Unido permanece sob as leis da UE.

Na próxima semana, em Bruxelas, está previsto um encontro informal sem a presença dos britânicos para os 27 membros do bloco europeu discutirem como será o processo de saída do Reino Unido.

"Vamos começar uma reflexão sobre o futuro da nossa união. É verdade que os últimos anos foram difíceis, mas como diz meu pai, o que não te mata te faz mais forte", declarou Tusk na manhã desta sexta.

PRESSÃO

Ao abraçar a campanha pelo "fica", Cameron sabia que tinha colocado em risco o próprio cargo de premiê.

Há 25 anos defendendo o rompimento com o bloco europeu, o líder do Ukip, Nigel Farage, defendeu nesta sexta que o dia 23 de junho vire feriado nacional no Reino Unido para defender que chamou de "dia da independência".

Farage também acredita que os britânicos abriram um importante precedente para plebiscitos Europa afora.

Além do risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações e romper com a UE, existe também a possibilidade de impulso a movimentos separatistas como o catalão e o escocês.

O resultado apertado do plebiscito mostra ainda que os britânicos estão divididos e terão de curar muitas feridas após a votação.

Além da disputa pela liderança do Partido Conservador, que chegou rachado ao dia da votação, o plebiscito também expôs fragilidades no Partido Trabalhista.

Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, apoiou a permanência no bloco europeu, e, por isso, também está sob pressão e com a cabeça a prêmio. À Sky News, o líder dos trabalhistas garantiu que não renuncia e defendeu que o Reino Unido dê início ao processo de negociação da saída do bloco imediatamente.

União Europeia e Reino Unido


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