Folha de S. Paulo


Justiça absolve policial que levava jovem negro morto em Baltimore

O policial de Baltimore que dirigia o furgão no qual Freddie Gray sofreu uma lesão fatal na espinha foi absolvido, na quinta-feira, da acusação de homicídio em segundo grau e seis acusações mais leves. Este é o terceiro policial acusado pela Promotoria que é inocentado no caso, que abalou a cidade.

"O tribunal considera que não existem provas suficientes de que o réu transportou a vítima de forma a causar-lhe lesões, ou de que pretendesse fazê-lo", disse o juiz Barry Williams, lendo sua decisão em voz baixa mas audível no cavernoso tribunal. "Não houve prova apresentada neste julgamento de que o réu pretendesse que qualquer crime acontecesse".

Mark Makela/AFP
Mural grafitado em Baltimore mostra representação de Freddie Gray, morto após ser preso em abril de 2015
Mural grafitado em Baltimore mostra representação de Freddie Gray, morto após ser preso em 2015

O policial, Caesar Goodson Jr, estava sentado em completo silêncio, contemplando o juiz enquanto este lia o veredicto. Depois, ele abraçou seus familiares e alguns dos demais policiais acusados no caso.

A morte de Gray, 25, em abril do ano passado, provocou dias de violentos protestos que levaram o governador a acionar a Guarda Nacional e colocou a cidade no centro de um dilacerante debate nacional sobre raça e policiamento.

Marilyn Mosby, a promotora do Estado, discursou nos degraus do Memorial de Guerra da cidade e disse aos moradores que "faria justiça" em nome deles.

Mosby em seguida tomou a decisão, sem precedentes, de acusar seis policiais pela detenção e subsequente morte de Gray, que era negro, reservando a acusação mais severa —homicídio em segundo grau, com "depravação de motivos"— a Goodson.

Manifestantes e ativistas do movimento Black Lives Matter receberam as acusações positivamente, mas também houve quem as criticasse como ambiciosas demais ou movidas por razões políticas.

O primeiro julgamento, do policial William Porter, que enfrentava acusações de agressão e homicídio culposo, terminou com empate entre os jurados, em dezembro.

No mês passado, o policial Edward Nero foi considerado inocente de quatro acusações, entre as quais agressão e irresponsabilidade no uso da força, por seu papel na detenção inicial de Gray.

Como Nero, Goodson optou por ter seu veredicto determinado por um juiz e não por um júri.

Gray foi detido por fugir, aparentemente sem motivo, de policiais que patrulhavam o empobrecido bairro de Sandtown, no oeste de Baltimore, e colocado em um furgão da polícia que fez seis paradas na zona oeste da cidade antes de chegar à delegacia de polícia do distrito oeste, onde Gray foi encontrado inconsciente e sem respiração, tendo sofrido uma lesão devastadora na medula espinhal.

Os promotores alegaram que Goodson, que também é negro, havia decidido transportar Gray no furgão de forma brutal, colocando-o intencionalmente em risco de lesão ao fazer uma curva muito aberta sem que Gray estivesse protegido por um cinto de segurança.

Goodson também foi acusado de descumprir seu dever de proteger o preso por não ter buscado assistência médica para Gray, ainda que o prisioneiro tivesse dito a Porter que precisava de socorro.

"A intenção era sacudi-lo no carro", disse um dos promotores, Michael Schatzow, em seus argumentos de conclusão. "As consequências para o prisioneiro foram piores do que Goodson antecipava".

Mas os advogados de Goodson, 46, afirmaram que seu cliente havia agido de acordo com seu treinamento, e que a morte de Gray havia sido um acidente não intencional, acontecido porque o prisioneiro se levantou dentro do furgão enquanto este estava em movimento.

"Gray criou alto grau de risco", disse Matthew Fralig, um dos advogados de defesa, na segunda-feira. Referindo-se aos promotores, ele acrescentou "eles não conseguiram nem mesmo montar um caso sustentado por inferências razoáveis, quanto mais provas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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