Folha de S. Paulo


Trump inicia campanha eleitoral com deficit de dinheiro

Donald Trump está começando a campanha eleitoral geral com a maior desvantagem financeira e organizacional de qualquer candidato de um dos grandes partidos na história recente, colocando sua candidatura e seu partido em perigo político.

Trump iniciou o mês de junho com apenas US$ 1,3 milhão em dinheiro disponível, uma cifra mais típica de uma campanha para deputado que para a Casa Branca, mais de US$ 41 milhões atrás de Hillary Clinton, revelaram documentos registrados na noite de segunda-feira (21) junto à Comissão Eleitoral Federal.

Sua equipe de campanha é composta por cerca de 70 pessoas —enquanto a equipe de Hillary tem quase 700—, sugerindo que apenas um esforço mínimo está sendo feito para preparar a disputa pelos Estados indecisos, no outono deste ano. E Trump demitiu seu diretor de campanha, Corey Lewandowski, nesta segunda, em meio a receios de aliados e doadores quanto à capacidade dele de comandar uma campanha competitiva.

Ralph Freso/AFP
PHOENIX, AZ - JUNE 18: Republican presidential candidate Donald Trump speaks to a crowd of supporters during a campaign rally on June 18, 2016 in Phoenix, Arizona. Trump returned to Arizona for the fourth time since starting his presidential campaign a year ago. Ralph Freso/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Republicano Donald Trump em ato de campanha no Arizona, neste sábado (18)

A campanha de Trump não colocou um único anúncio na televisão desde que o candidato garantiu sua provável indicação, em maio, e não reservou anúncios para o verão ou o outono.

Hillary Clinton e seus aliados gastaram quase US$ 26 milhões em publicidade apenas em junho, segundo o Grupo de Análises de Mídia de Campanhas, anúncios em que ela atacou Trump por seu temperamento, suas declarações e o fato de ele ter caçoado de um repórter que tem uma deficiência física. Com a exceção dos insultos lançados por Trump em comícios e no Twitter, a única reação aos anúncios de Hillary veio de dois grupos que, juntos, gastaram menos de US$ 2 milhões.

FALTA DE CAIXA

Os esforços de levantamento de fundos de Trump em maio refletem seu atraso em reunir as bases de uma equipe financeira nacional. No mesmo mês em que ele se garantiu a indicação pelo Partido Republicano, Trump levantou apenas US$ 3,1 milhões e foi obrigado a emprestar US$ 2 milhões a ele mesmo para cobrir seus custos.

Alguns convites para os eventos de levantamento de fundos para sua campanha incluem a mesma lista curta de voluntários financeiros republicanos nacionais, independentemente da cidade em que o evento é realizado, sugerindo que Trump vem tendo dificuldade em conseguir o apoio de co-anfitriões locais.

Um porta-voz do candidato não respondeu a perguntas sobre os planos de gastos da campanha. Em entrevista dada à CNN na segunda-feira (20), Lewandowski defendeu a abordagem enxuta de Trump.

"Somos mais enxutos, mais eficientes, mais eficazes. Atraímos multidões maiores, conseguimos cobertura melhor", disse Lewandowski. "Se este fosse o mundo empresarial, as pessoas estariam elogiando Trump pelo modo como ele vem comandando sua campanha."

Mas o deficit de recursos está deixando Trump altamente dependente do Comitê Nacional Republicano, que vem fazendo esforços recordes de levantamento de fundos neste ciclo de campanha e que, muito antes de Trump ter sequer declarado sua candidatura, já tinha começado a investir pesado em um plano de longo prazo para reforçar a capacidade técnica e organizacional do partido.

Trump sugeriu que vai deixar a tarefa crucial de organização da campanha nos Estados indecisos a cargo do Comitê Nacional Republicano, que normalmente depende do candidato do partido para ajudar a financiar, dirigir e fornecer funcionários aos esforços políticos republicanos nacionais.

Sua decisão corre o risco de deixar o partido com um deficit importante de dinheiro e pessoal: na segunda-feira o partido informou ter levantado US$ 13 milhões durante o mês de maio, um terço do valor que levantou em maio de 2012, quando a chapa republicana era liderada por Mitt Romney.

"É como uma cachoeira", explicou um estrategista da campanha republicana, Brian O. Walsh. "Há coisas que precisam acontecer, e alguém precisa pagar por elas."

O deficit financeiro de Trump assinala uma inversão nítida em relação à campanha presidencial de 2012, que pareceu inaugurar uma nova era de dinheiro virtualmente ilimitado na política americana, reforçada pela decisão tomada dois anos antes pela Suprema Corte no caso Citizens United versus a Comissão Eleitoral Federal. Na mesma fase naquele ano, o presidente Barack Obama e Mitt Romney estavam levantando dezenas de milhões de dólares por mês com seus respectivos partidos.

E, embora Romney tenha enfrentado um grande deficit comparado a Obama em junho de 2012, ele estava levantando muito mais dinheiro do que Trump está levantando hoje. Grandes doadores se reuniam em torno de sua causa.

"É a campanha que precisa estar aí fora, dirigindo o carro do levantamento de fundos", disse o lobista Austin Barbour, que foi co-presidente de finanças nacionais da campanha de Mitt Romney. "E é bom que o carro seja um Cadillac grandão."

PERSPECTIVAS

Trump já contrariou as opiniões da maioria antes, tendo conseguido a indicação republicana mesmo com pouca organização e gastando pouco com a televisão. E as autoridades republicanas acreditam que estão bem preparadas para compensar pela largada atrasada de Trump. O Comitê Nacional Republicano tem mais de 500 funcionários em campo nos Estados indecisos, um número muito superior ao de 2012, e conta com uma operação digital e de dados robusta.

Aliados de Trump acham que a maré já está virando para favorecê-lo. Nesta terça-feira, o candidato vai comparecer a um evento caro de levantamento de recursos promovido em Nova York por alguns dos nomes mais destacados de Wall Street.

Pedindo anonimato para falarem de discussões internas, pessoas que trabalham no esforço de levantamento de recursos de Trump disseram que agora esperam levantar até US$ 500 milhões junto ao Comitê Nacional Republicano, ou uma média de US$ 100 milhões mensais entre junho e outubro. Segundo esses doadores, Trump está levantando entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões em cada cidade onde ele levanta recursos.

Mas Mitt Romney também contou com uma rede cara de super-PACs de bolsos grandes e outros grupos externos que, coletivamente, gastaram centenas de milhões de dólares em um esforço para elegê-lo.

Este ano são os democratas que lideram em termos de dinheiro vindo de fora do partido. O Priorities USA Action, grupo que se concentra em publicar anúncios em apoio a Hillary, anunciou na segunda-feira (20) ter levantado US$ 12 milhões em maio e dispor de US$ 52 milhões —uma reserva enorme.

Tradução de CLARA ALLAIN


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