Folha de S. Paulo


Macri recebe opositor de Maduro em busca de apoio a referendo

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, recebeu na tarde desta segunda (13) um dos principais líderes oposicionistas da Venezuela.

Henrique Capriles, que já foi candidato à Presidência duas vezes e governa o Estado de Miranda, esteve reunido com Macri por cerca de uma hora.

Capriles está em um tour pela América do Sul para pedir apoio internacional à realização do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro ainda neste ano.

O venezuelano também se encontrou, nesta segunda, com o presidente do Paraguai, Horacio Cartes. No fim de maio, o governo paraguaio foi o primeiro a adotar uma medida mais dura contra Maduro, pedindo uma reunião de emergência do Merscosul para tratar da crise social, política e econômica da Venezuela.

Ao deixar a Casa Rosada, Capriles afirmou estar viajando para contar qual é a realidade do país. "A Venezuela vive a pior crise de sua história, falta alimento lá. Se [a situação] explodir, haverá impactos em toda a região. Viemos pedir para que não se esqueçam de nós."

Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Venezuelan opposition leader and Governor of Miranda state Henrique Capriles (R), speaks during a rally to demand a referendum to remove President Nicolas Maduro in Caracas, Venezuela, May 25, 2016. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins ORG XMIT: VEN05
Oposicionista Capriles (dir.) fala durante ato em Caracas, em maio, a favor de referendo

De acordo com o político, não há motivos para que o referendo não ocorra antes do fim do ano. A oposição tem pressa, pois Maduro precisa ser revogado até janeiro de 2017 para que uma nova eleição seja convocada. Caso contrário, quem assumiria seria o vice, Aristóbulo Istúriz.

"Queremos que a Venezuela tenha uma saída constitucional, democrática e pacífica e que o referendo seja neste ano. Não há razões técnicas nem legais para que não seja neste ano", acrescentou.

Enquanto falava com jornalista, o político foi interrompido duas vezes por gritos de "golpista" e "viva a resistência venezuelana" entoados por apoiadores de Maduro. Ao que respondeu: "Vão para a Venezuela".

DISCUSSÃO

Três venezuelanas contrárias a Maduro foram à Casa Rosada para cumprimentar Capriles. Após o governador se retirar, um bate-boca entre apoiadores e opositores tomou conta da calçada.

A venezuelana Erica Sira, 26, que trabalha no correio argentino, disse estar ali por ver em Capriles uma saída para seu país. "Vim para a Argentina seis meses atrás para poder mandar dinheiro para a minha família. Estamos sufocados lá."

Do outro lado, o estudante Carlos Soto, 29, que está em Buenos Aires há dois, afirmou que a Venezuela passa pela crise por "estar fazendo a revolução".

"Isso tem um custo. O imperialismo e a classe alta criaram essa guerra e querem matar a população de fome."

Para Paulo Pereira, brasileiro de 31 anos que também atacou Capriles verbalmente, o encontro entre o opositor de Maduro e o presidente Macri é "vergonhoso".

"Por que Capriles e [o chanceler brasileiro José] Serra vieram aqui? Porque Buenos Aires é a capital do golpe", afirmou se referindo ao fato de o governo de centro-direita de Mauricio Macri ter sido um dos primeiros a reconhecer o presidente interino Michel Temer.

Pereira faz parte do coletivo Passarinho, um movimento de esquerda de brasileiros na Argentina que organizou atos de repúdio ao governo Temer quando Serra esteve em Buenos Aires para reunir-se com Macri e com a chanceler, Susana Malcorra.

Na terça (14), Capriles será recebido por Serra no Brasil.


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