Folha de S. Paulo


Argentina reavalia zoológicos após morte de 70 animais em 5 meses

A cerca de 75 km de Buenos Aires, uma dúzia de brasileiros se aglomera em fila, diante de uma jaula, para pentear a juba de um leão.

Essa é a principal atração do Zoológico de Luján, cuja atividade é questionada por ambientalistas. O estabelecimento privado, em que 70% dos visitantes de dias de semana são brasileiros, não é o único criticado no país.

Luciana Dyniewicz/Folhapress
Visitante escova juba de leão dentro de jaula do zoológico de Lujan, na Argentina, que recebe críticas
Visitante escova juba de leão dentro de jaula do zoológico de Lujan, na Argentina, que recebe críticas

O zoológico de Mendoza passou a ser censurado após a divulgação de 70 mortes de animais desde janeiro. No de Buenos Aires, morreram, em 2015, dois leões marinhos que faziam shows.

O debate em torno dos zoológicos ganhou força há duas semanas, quando um gorila foi sacrificado nos EUA após agarrar uma criança que havia caído em seu cercado.

Na Argentina, há uma tentativa de transformar os zoológicos em locais para preservar espécies em extinção, sobretudo da fauna local.

Em Mendoza, o governo pretende não ter mais animais exóticos e espera a aprovação da lei que criará esse novo modelo de zoológico.

O secretário de Meio Ambiente, Humberto Mingorance, conta que as mortes no local são comuns –nos últimos dois anos, foram 720. As causas vão desde consanguinidade até agrotóxicos no pasto, passando por hipotermia.

O local tem 2.130 animais –a capacidade é para 850. "Em maio, choveu 20 dias seguidos, os bichos se molharam, passaram frio e não havia espaço para todos."

Em Luján, além de pentear leão, é possível pegar no colo bebês de tigres e encher a palma de mão de leite para os felinos adultos tomarem.

O diretor do zoológico, Jorge Semino, afirma que os animais nasceram no local e foram criados sempre com o contato humano, o que os domesticou. Cachorros também são colocados em jaulas de tigres e leões para amansá-los.

"Não os obrigamos a fazerem acrobacias. Eles são tratados como nossos filhos. O resultado é que podem estar conosco quando adultos."

Aos rumores de que os animais são sedados, responde que isso não seria possível, já que poderiam ficar, inicialmente, agressivos.

Bruno Petri, presidente da Abravas (Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens), diz não poder afirmar se os bichos são dopados, mas lembra que coibir o comportamento natural deles não é saudável.

Para Carlos Balboa, da Fundação Vida Silvestre, o zoológico de Luján não é dedicado nem à conservação de espécies nem à investigação.

"Não há um trabalho educativo do homem com a natureza, mas de dominância. Os zoológicos atuais têm que se ocupar de investigações científicas e conservação."

Semino disse à Folha, porém, que seu estabelecimento é um centro de resgate de animais contrabandeados e que amplia o espaço para dar mais conforto aos bichos.

O Zoológico de Buenos Aires informou que estuda uma nova proposta e admite que "não cumpre com as atuais demandas da sociedade".

O de La Plata anunciou que virará um parque e que os animais que estão ali não serão substituídos. A prefeitura de Luján disse que a operação do zoológico da cidade está sob análise da Justiça.


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