Folha de S. Paulo


Com Keiko Fujimori, autoritarismo volta ao debate na política do Peru

Com a possibilidade de vitória de Keiko Fujimori nas eleições deste domingo (5) no Peru, um trabalho acadêmico tem sido evocado por intelectuais antifujimoristas que passaram a defender uma espécie de "benefício da dúvida" para a filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000).

A pesquisa "Os Sucessores dos Partidos Autoritários", de James Loxton (Universidade de Sidney), levanta todos os governos autoritários ou ditatoriais que voltaram ao poder pela via democrática.

Mariana Bazo - 2.jun.2016/Reuters
A candidata presidencial Keiko Fujimori agita bandeira de campanha durante comício em Lima na quinta
A candidata presidencial Keiko Fujimori agita bandeira de campanha durante comício em Lima na quinta

A conclusão é que "é muito mais comum essas forças retornarem ao jogo político aceitando as regras democráticas do que desaparecerem ou desistirem da vida pública", disse Loxton à Folha.

"Procurei descobrir se, no retorno, elas puseram a democracia em risco. E me surpreendi que a maioria, embora em alguns casos retornando com traços fortes de autoritarismo, não comprometeu a democracia e manteve as instituições e os processos eleitorais funcionando".

Na América Latina, Loxton identificou nove casos de projetos autoritários que voltaram pelas urnas. Sete "se portaram bem", ou seja, aceitaram as regras democráticas.

Só dois concentraram poder, perseguiram opositores, acuaram a Justiça e a mídia e comprometeram instituições: Joaquín Balaguer (egresso da ditadura de Rafael Trujillo), eleito na República Dominicana em 1986, e Daniel Ortega, na Nicarágua, em 2007.

Entre os casos em que a democracia prevaleceu estão a Bolívia de Hugo Banzer, eleito em 1997; o Chile sob Sebastián Piñera (eleito em 2010 com aliança que incluía o partido pinochetista), o Panamá, com a eleição do filho do ditador Omar Torrijos, Martín, em 2004, e o Partido Colorado, do ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que voltou ao poder em 2013.

Raio-x Peru

OUTRO CAMINHO

"Não é ser entusiasta desses retornos ou nomes, mas parece importante, num momento em que um país como o Peru caminha para talvez eleger a filha de um ex-ditador, reforçar que ela não necessariamente fará um governo antidemocrático", diz.

Loxton chama a atenção para elementos positivos exibidos por alguns ex-autoritários, como a capacidade de reorganizar um sistema político por meio de uma influência já reconhecida e de incorporar forças que possam causar desequilíbrio no sistema.

No caso do Peru, é positivo o fato de essas forças antes autoritárias, ligadas a uma família, serem uma "marca" que gera nostalgia do eleitor.

"Para boa parte da população, o fujimorismo trata-se da memória de um tempo de pacificação, quando se derrotou o Sendero Luminoso [milícia terrorista], e estabilização econômica. Se Keiko se eleger, essa nostalgia pode ser usada para começar um bom trabalho, se ela quiser."

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