Folha de S. Paulo


Ex-presidente Bill Clinton traz ônus e bônus para campanha de sua mulher

Bill Clinton ganhou fama de ser a "faca de dois gumes" na campanha da mulher.

É um ex-presidente que deixou saudade —com aprovação de 55%—, é o quinto mais querido dos EUA (John Kennedy lidera com 70,5%) e tem "toque humano" que faltaria à "robótica" Hillary, como disse à Folha Kate Grossman, do Instituto de Política da Universidade de Chicago.

Mas é também um ex-presidente que deixou um legado de escândalos sexuais e uma lei acusada de alienar a comunidade negra.

O presente também preocupa, sobretudo desavenças com a juventude anti-Clinton.

O republicano Donald Trump já usou o "velho Bill" contra Hillary, com quem deve disputar a Casa Branca.

Em baixa com o eleitorado feminino, o magnata ataca a "falta de decoro" do ex-mandatário, que chamou no Twitter de "o pior assediador na história política dos EUA".

Em entrevista à Fox News, evocou não só Monica Lewinsky (pivô do processo de impeachment contra Clinton, que mentiu sobre o caso com a então estagiária), como mais três supostas vítimas.

Paula Jones disse que, em 1991, o então governador do Arkansas teria pedido a ela, servidora pública, sexo oral. Retirou a acusação em 1999, ao receber US$ 850 mil (R$ 3 milhões), em acordo que não incluiu admissão de culpa.

Já Kathleen Willey era voluntária na Casa Branca quando Bill teria lhe agarrado à força. Não teria reagido porque "você não estapeia o presidente dos EUA".

Mas a denúncia mais grave é a de Juanita Broaddrick, segundo quem Bill Clinton a estuprou em 1978. "Absolutamente falso", disse o advogado do então presidente.

É Hillary quem deve prestar contas agora, cobrou Trump: "Ela machuca muitas mulheres, as mulheres de quem ele abusou".

A democrata diz que não vai "entrar no jogo" de Trump, e um porta-voz seu afirmou que o magnata quer "arrastar a América para a lama em benefício próprio".

"A autoimagem de Hillary como defensora do feminismo se contrapõe à sua parceria política com um mulherengo contumaz, cuja carreira dependeu de manchar a reputação de mulheres com quem teve casos", diz Rich Lowry, editor da revista conservadora "National Review".

TEMPERAMENTO

O gênio de Bill, 69, é outro obstáculo. Na semana passada, ele discutiu com Josh Brody, 45 anos mais novo, em um restaurante no Novo México. Ignorando sua equipe, debateu por meia hora com o defensor de Bernie Sanders.

Bill se zangou quando Josh disse que, em seu governo, Wall Street se deu bem, e o Estado do bem-estar social levou a pior. "É uma narrativa fofa", disse o ex-presidente.

À ABC o jovem resumiu o "argumento essencial" de Clinton assim: "Pobres são preguiçosos, e se você lhes der benefícios, ficarão dependentes do governo".

O incidente não foi isolado. Em abril, o ex-presidente interrompeu um evento para discutir com duas militantes do movimento pró-direitos negros. Elas reclamavam de uma lei, em sua gestão, que endureceu punições e afetou a comunidade negra, mais vulnerável a ações policiais.

Para Grossman, atacar Bill Clinton têm alcance limitado. Em janeiro de 1998, quando estourou o caso Lewinsky, ele atingiu 67% de aprovação.

Já sua mulher é a pré-candidata democrata mais odiada em 30 anos —37% do eleitorado a vê de forma "fortemente desfavorável", segundo pesquisa de abril. Para a professora, "Trump ganharia mais se falasse de Hillary".


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