Folha de S. Paulo


Com imagem de bebê morto no Mediterrâneo, ONG pressiona UE

A foto de um bebê morto nos braços de um socorrista alemão foi distribuída nesta segunda-feira (30) por uma organização humanitária com o objetivo de pressionar autoridades europeias a garantirem a passagem segura a migrantes diante do temor de que centenas deles tenham se afogado no Mediterrâneo na semana passada.

O corpo do bebê, que não parece ter mais de 1 ano de idade, foi retirado do mar na sexta-feira (27) depois do naufrágio de um barco de madeira. Quarenta e cinco corpos chegaram ao porto de Reggio Calabria, no sul da Itália, no domingo (29), a bordo de uma embarcação da marinha italiana, que resgatou 135 sobreviventes neste incidente.

A organização humanitária alemã Sea-Watch, que opera um barco de resgate no mar entre a Líbia e a Itália, distribuiu a imagem, feita por uma empresa de produção de mídia a bordo, que mostra um agente de resgate segurando o bebê como uma criança adormecida.

Christian Buettner/Eikon Nord GmbH Germany/Reuters
ATTENTION EDITORS - VISUAL COVERAGE OF SCENES OF INJURY OR DEATHA German rescuer from the humanitarian organisation Sea-Watch holds a drowned migrant baby, off the Libyan cost May 27, 2016. The baby, who appears to be no more than a year old, was pulled from the sea after a wooden boat capsized last Friday. Mandatory Credit Christian Buettner/Eikon Nord GmbH Germany/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVES. MANDATORY CREDIT. TEMPLATE OUT. THIS PICTURE WAS PROCESSED BY REUTERS TO ENHANCE QUALITY. AN UNPROCESSED VERSION HAS BEEN PROVIDED SEPARATELY. ORG XMIT: BER900R
Alemão da ONG Sea-Watch acolhe um bebê afogado morto na travessia do Mediterrâneo

Em um email, o socorrista fotografado com o bebê, que se identificou como Martin, mas não quis que seu sobrenome fosse publicado, disse ter visto o bebê na água "como um boneco, com os braços esticados".

"Peguei o bebê pelo antebraço e puxei seu corpinho para os meus braços na mesma hora para protegê-lo... os braços dele, com aqueles dedinhos, balançaram no ar, o sol bateu nos seus olhos, brilhantes, acolhedores, mas sem vida", disse.

Martin, que tem três filhos e exerce a profissão de terapeuta musical, acrescentou: "Comecei a cantarolar para me confortar e para expressar de alguma maneira esse momento incompreensível, de cortar o coração. Só seis horas antes essa criança estava viva".

Como a foto do menino sírio Alan, de 3 anos, estirado sem vida em uma praia turca no ano passado, a imagem deu uma feição humana às mais de 8.000 pessoas que morreram no Mediterrâneo desde o início de 2014.

Pouco se sabe sobre a criança resgatada na sexta (27) e que, segundo a Sea-Watch, foi entregue imediatamente à marinha italiana. Os socorristas não puderam confirmar se o bebê parcialmente vestido era menino ou menina, e tampouco se sabe se seus pais estão entre os sobreviventes dos naufrágios.

A Sea-Watch recolheu cerca de 25 outros corpos, incluindo outra criança, segundo testemunhos da equipe informados à agência Reuters. A equipe da organização disse ter decidido de forma unânime a favor da publicação da foto.

"Na sequência desses acontecimentos desastrosos, torna-se óbvio para as organizações envolvidas que os clamores dos políticos europeus para se evitar novas mortes no mar não são mais do que falatório", afirmou a Sea-Watch em um comunicado em inglês distribuído junto com a foto.

Pelo menos 700 imigrantes podem ter morrido no mar na última semana, segundo a Acnur (agência para refugiados da ONU).

O barco que levava o bebê partiu de praias próximas de Sabratha, na Líbia, no final da quinta-feira (26), e começou a ser inundado pela água, de acordo com relatos de sobreviventes transmitidos à ONG Save the Children.


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