Folha de S. Paulo


Ministro da Defesa de Israel diz não confiar mais em Netanyahu e renuncia

Sob o argumento de que o governo de Israel está tomado "por elementos perigosos e extremistas" e que não é mais possível confiar no premiê Binyamin Netanyahu, o ministro da Defesa israelense, Moshe Yaalon, anunciou nesta sexta (20) sua renúncia.

Yaalon era considerado uma voz moderada no governo, mas constantemente suas declarações sobre o papel das Forças Armadas entrava em choque com as de Netanyahu.

A tensão entre os dois se acirrou nos últimos dias, quando Yaalon defendeu o direito de um de seus funcionários de expressar suas opiniões livremente sobre as Forças Armadas. Na ocasião, o general Yair Golan fez associações entre as últimas ações de Israel e eventos na Alemanha nazista.

Amir Cohen/Reuters
Moshe Yaalon anuncia sua renúncia do cargo de ministro da Defesa de Israel, em Tel Aviv
Moshe Yaalon anuncia sua renúncia do cargo de ministro da Defesa de Israel, em Tel Aviv

Outro ponto de tensão ocorreu em março, quando um soldado israelense foi flagrado em um vídeo atirando na cabeça de um agressor palestino que já estava ferido e rendido em Hebron. Yaalon defendeu que o soldado fosse processado por assassinato. No entanto, membros do governo defenderam a ação do soldado.

Segundo o agora ex-ministro, a maior parte da população de Israel é tolerante e almeja por uma sociedade liberal e democrática. "No entanto, para minha grande infelicidade, elementos extremistas e perigosos tomaram Israel e o partido Likud [governista], ameaçando a população", disse.

"Infelizmente, políticos do país escolheram o caminho da incitação e segregação de partes da sociedade israelense, em vez de unificá-las e acolhê-las. É insuportável para mim que o cinismo e a ânsia pelo poder estejam nos dividindo. Já expressei minha opinião sobre esse assunto mais de uma vez, por ter uma preocupação honesta sobre o futuro da sociedade israelense e das próximas gerações."

Na rede social Facebook, Yaalon também anunciou sua renúncia do Parlamento e que ficará por um tempo longe da vida política.

"Recentemente, tive fortes discordâncias em assuntos morais e profissionais com o premiê, diversos ministros e membros do Knesset [Parlamento]", disse. "Lutei com todas as minhas forças contra manifestações de extremismo, violência e racismo na sociedade israelense, que ameaçam sua solidez."

POSSÍVEL SUCESSOR

De acordo com a agência Associated Press, Netanyahu provavelmente indicará Avigdor Lieberman, 57, ex-ministro das Relações Exteriores, para o cargo. Lieberman é um antigo aliado do premiê, mas não possui experiência militar.

No passado, Lieberman já expressou sua descrença em relação a um acordo de paz com os palestinos e defendeu a pena de morte contra árabes condenados por terrorismo.


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