Folha de S. Paulo


Governo francês atropela Legislativo e aprova polêmica reforma trabalhista

O governo francês decidiu, nesta terça-feira (10), adotar a controversa reforma trabalhista do presidente François Hollande sem votação no Parlamento.

A decisão, anunciada pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, se segue a semanas de manifestações no país, em parte violentas, e após a oposição de políticos do mesmo partido do socialista Hollande.

A reforma visa, segundo o governo, dar maior flexibilidade às empresas para lutar contra um desemprego superior a 10%.

Apesar de Valls ter diluído parte da proposta em março, após protestos de estudantes, a reforma ainda contém medidas que dão maior flexibilidade para empregadores acordarem jornadas de trabalho diretamente com seus empregados e apresentam condições menos restritivas a empresas que demitem por razões econômicas.

Partilhando das preocupações dos franceses que foram às ruas contra a reforma, vários deputados de esquerda indicaram que não votariam a favor do projeto de lei.

O presidente Hollande já disse que só considera concorrer à reeleição, no próximo ano, se conseguir reduzir o desemprego no país. Ele disse acreditar que a reforma vai encorajar a contratação por empresas na França.

Stephane de Sakutin/Reuters
Presidente francês, François Hollande, em entrevista no palácio presidencial do Eliseu em março de 2016
Presidente francês, François Hollande, em entrevista no palácio presidencial do Eliseu, em março

Sem maioria sobre a proposta, o governo decidiu usar a cláusula constitucional 49-3, que permite que o governo se responsabilize por um projeto que, de outra forma, deveria passar pela aprovação do Legislativo. A mesma cláusula foi utilizada em 2015, para aprovar uma reforma econômica impulsionada pelo ministro da Economia, Emmanuel Macron.

Nesta terça (10), um conselho de ministros foi convocado para chancelar a decisão do Executivo. O governo assume, assim, o risco de perder parte do eleitorado de esquerda que, segundo as recentes pesquisas, está amplamente insatisfeito com a administração Hollande.

A adoção da reforma pode, no entanto, ser prejudicada caso os oposicionistas aprovem em 24 horas uma moção de censura à decisão da administração Hollande de driblar o Parlamento.


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