Folha de S. Paulo


Donald Trump recorre a mulher e filha para melhorar reputação na campanha

Você não gosta de mim, mas minha filha gosta –e talvez ela possa convencer os EUA de que não sou tão mau assim. Daria para traduzir dessa forma a estratégia que Donald Trump adotou em sua campanha à Casa Branca.

Foi Ivanka Trump, 34, a segunda dos cinco filhos que ele teve em três casamentos, quem o apresentou em 16 de junho de 2015, quando anunciou a candidatura pelo Partido Republicano.

Carlo Allegri/Reuters
Ivanka (de vermelho) e Melania Trump durante evento da campanha nos EUA
Ivanka (de vermelho) e Melania Trump durante evento da campanha nos EUA

"Enquanto a plateia vibrava, ela exibia um estilo mais polido do que a mistura paterna de Archie Bunker [personagem da série de TV 'All in the Family] e Jay Gatsby [o playboy do livro de F. Scott Fitzgerald]", descreve Michael D'Antonio, biógrafo do empresário.

Dos 17 nomes adversários, só restou ele. Agora o magnata conta com a filha e também a mulher, Melania, 46, para tentar reverter a aversão que seu nome provoca em 50,5% da população americana.

Sua taxa de reprovação entre mulheres recrudesce nas pesquisas da Gallup. Se agora 7 em 10 mulheres o rejeitam, em julho eram 58%.

Trump não colabora. Quando, em agosto, uma apresentadora da Fox News pediu que explicasse por que "chamou mulheres das quais não gosta de 'porcas gordas', 'canhões' e 'desleixadas'", ele riu e disse: "Não tenho tempo para o politicamente correto".

Essa parte fica a cargo da ala feminina da família. Em várias ocasiões, Ivanka (filha da primeira mulher de Trump, Ivana, ex-modelo tcheca) e Melania (ex-modelo eslovena) relativizaram o sexismo a ele atribuído.

"Meu pai acredita 100% na igualdade de gênero, confia que a mulher pode exercer qualquer emprego que o homem tem, e sou prova disso", disse Ivanka, vice-presidente nas Organizações Trump.

Melania afirmou que não é do perfil do marido discriminar amigos –e rivais– por gênero. "Não importa se é homem ou mulher, ele trata a todos de forma igual."

Essa isonomia não resiste a uma volta ao passado. Em 1997, à revista "New Yorker", Trump disse que uma quiroprática a serviço de seus funcionários provavelmente cursou a "Faculdade Médica de Baywatch [a série de TV]".

Seis anos antes, à "Esquire", prescreveu uma fórmula para combater a má propaganda na mídia: ter "um jovem e delicioso pedaço de carne" ao seu lado.

MORDE E ASSOPRA

Ivanka cresceu brincando no escritório do pai e é uma de suas mais influentes conselheiras. "Ela é um lado mais gentil e refinado da 'grife Trump' e um antídoto para a abrasividade do candidato", escreveu D'Antonio em artigo.

Pai e filha se falam até cinco vezes por dia, e ela cumpriu agenda política uma semana após dar à luz ao seu terceiro filho com Jared Kushner.

Em seu site, Ivanka dá dicas de moda para a "mulher trabalhadora e moderna" e de etiqueta empresarial.

Em janeiro, aconselhou quem viajasse a negócios ao Brasil: "Vista-se para causar, mas não dê presentes, que podem ser vistos como propina. Lembre-se que o símbolo de 'ok' [círculo formado com os dedos] é considerado vulgar. Prefira levantar o polegar".

Enquanto a filha de Trump anseia por protagonismo político, Melania se esquiva dos holofotes. Em entrevista à "GQ", disse que "ninguém sabe nem saberá [o que penso]. Isso é entre mim e meu marido." Promete que, se Donald Trump for eleito, será uma primeira-dama "tradicional", como Jackie Kennedy, e se envolverá em "muitas, muitas caridades".


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