Folha de S. Paulo


Saiba quem é o clérigo por trás dos protestos contra o governo do Iraque

Por trás dos massivos protestos contra o governo do Iraque, que culminaram no último final de semana com a invasão da fortificada Zona Verde em Bagdá, está o influente clérigo xiita Moqtada al-Sadr.

Al-Sadr é uma figura conhecida no país. Em 2003, ele ganhou influência política após se opor frontalmente à ocupação dos Estados Unidos e fundar o Exército de Mahdi.

Haidar Hamdani - 30 abr. 2016/AFP
O clérigo xiita Moqtada al-Sadr durante conferência de imprensa em Najat, no Iraque, no sábado (30)
O clérigo xiita Moqtada al-Sadr durante conferência de imprensa em Najat, no Iraque, no sábado (30)

A organização combateu forças americanas e se envolveu em disputas sectárias com milícias sunitas, incluindo a Al Qaeda, até oficialmente congelar suas atividades em 2008. Em 2014, no entanto, com a expansão da facção terrorista Estado Islâmico, o grupo voltou a assumir seu autoproclamado papel de defensor dos xiitas iraquianos e passou a lutar contra o EI.

Entre 2006 e 2007, Al-Sadr deixou o Iraque após a emissão de um mandado de prisão e se autoexilou no Irã. A princípio, ele prometeu que não voltaria ao Iraque antes da retirada das tropas americanas, mas retornou em 2011, quando ainda 45 mil soldados estrangeiros estavam no país.

No meio tempo, ele usou seu peso político para ajudar a compor um novo governo iraquiano — ele conquistou 39 cadeiras no Parlamento e recebeu oito ministérios do então premiê Nuri al Maliki, com quem rompeu mais tarde, — e se reinventou como uma força moderada.

Em 2011, por exemplo, após a França proibir o uso do véu em espaços públicos, Sadr postou em seu site uma declaração que muitos analistas avaliaram como um apoio à tolerância democrática: "Segundo a lei muçulmana, não é obrigatório usar o niqab ou não usá-lo, ambos são aceitáveis".

Em 2014, Sadr disse que iria se retirar da vida política, o que, no entanto, não ocorreu. No mesmo ano, Haider al-Abadi conquistou o cargo de primeiro-ministro.

Hoje, Al-Sadr advoga pelo fim do sistema de cotas nos escalões de poder implementado no Iraque por Washington após a queda de Saddan Hussein. O modelo foi pensado de forma a incluir as principais linhas étnicas-religiosas presentes no país —xiitas, sunitas e curdos— em cargos de decisão. No entanto, segundo críticos, incluindo Al-Sadr, o sistema está manchado pela corrupção e pela troca de favores.

Frente às críticas, Haider al-Abadi tenta fazer uma reforma política no país, mas encontra resistência dos legisladores. No sábado (30), quando o premiê iria apresentar ao Parlamento uma proposta para um novo governo composto por tecnocratas, a sessão foi adiada por falta de quórum. Horas depois, manifestantes enfurecidos invadiram o Parlamento, após conseguirem furar o bloqueio à Zona Verde,

Área com segurança reforçada, a Zona Verde abriga o palácio presidencial, a maior parte dos ministérios iraquianos e diversas embaixadas estrangeiras, como a dos Estados Unidos. Nos últimos meses, porém, vem sendo encarada como um símbolo da distanciamento entre os governantes iraquianos e a população.

De acordo com análise do "The Guardian", ainda que se declare a favor de Al-Abadi, Al-Sadr pode estar minando ainda mais a autoridade do premiê, que também é apoiado pelo governo americano. No entanto, ainda segundo o jornal britânico, a emergência de Al-Sadr como líder nacional poderá ser boa para Washington, ao impor uma barreira à influência do Irã na região.

ATENTADO

Nesta segunda (2), um atentado com carro-bomba no bairro de Saydiyah, em Bagdá, matou 18 peregrinos xiitas que prestavam homenagem ao aniversário da morte do clérigo Moussa al-Kadhim, que viveu no século 8º. Outras 45 pessoas ficaram feridas. A ação foi reivindicada pelo EI.


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