Folha de S. Paulo


Feriado e turismo levam Grécia a retirar refugiados de acampamento

A Grécia acelerou a operação de desmonte do campo improvisado de refugiados no porto de Pireus, vizinho a Atenas, em meio a acusações de ONGs de ajuda humanitária de que as autoridades têm piorado as condições no local para forçar a saída dos acampados.

O porto, que chegou a abrigar cerca de 5.000 refugiados no auge do fluxo para a Europa, tinha 2.158 nesta sexta (29), de acordo com o governo grego. O motivo da pressa é a chegada da Páscoa ortodoxa, principal feriado religioso da Grécia, neste domingo (1º).

Juliano Machado/Folhapress
Refugiados muçulmanos se reunem para rezar diante de um navio de cruzeiro no porto de Pireus
Refugiados muçulmanos se reunem para rezar diante de um navio de cruzeiro no porto de Pireus

A data também marca o início da alta temporada de turismo, quando cruzeiros de várias partes da Europa chegam a Pireus. O plano era enviar o maior número possível de refugiados para outros campos instalados pelo governo e "isolar" os restantes em uma área que não atrapalhasse as operações do porto.

Os refugiados estão concentrados em dois terminais, longe dos olhos da maioria dos turistas. Nesta sexta, quase 600 foram levados de ônibus para o campo de Skaramagas, a oeste de Atenas —na quinta (28), a reportagem presenciou ao menos cem deles entrando em três ônibus que deixaram o porto.

Membros de ONGs que atuam em Pireus acusam o governo de diminuir a quantidade de alimentos repassados às entidades, com o suposto intuito de convencer os refugiados a procurar outro lugar onde possam se alimentar melhor.

"Antes pedíamos 30 caixas de frutas num dia, e nos perguntavam se não queríamos mais. Agora está vindo bem menos. Estão apertando o parafuso", diz um integrante da ONG Remar sob condição de anonimato. O mesmo foi relatado por uma voluntária da S.O.S. Dreams (Socorro aos Sonhos, em tradução livre).

Em nota enviada à Folha, o órgão do governo grego que administra a crise dos refugiados diz não ter recebido "nenhuma reclamação de pessoa ou organização sobre qualquer redução de quantidade de comida".

No mesmo comunicado, as autoridades dizem que um dos argumentos para retirar os refugiados de Pireus é que, por eles estarem em um campo improvisado, não podem entrar com a documentação necessária para pedir asilo no país.

Segundo os membros das ONGs, o prazo com que o governo trabalha para esvaziar completamente o acampamento é de, no máximo, duas semanas. Eles afirmaram que, até poucos dias atrás, nenhuma embarcação atracava nos terminais 1 e 2, onde se concentram os refugiados.

Nesta semana, grandes navios de cruzeiro voltaram a partir dali. Um deles recebia passageiros na quinta enquanto um grupo de refugiados orava ao lado, em direção a Meca —prática realizada pelos muçulmanos cinco vezes ao dia.

Recém-chegado a Pireus, o afegão Said al-Said, 22, disse achar suficiente a comida dada aos refugiados. Ele ficou quase dois meses no campo de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, e se cansou das condições ainda mais precárias e da passagem bloqueada pelo governo macedônio.

"Daqui (Pireus) vou pedir que me ponham num barco para a Turquia. É melhor voltar a Cabul que ficar nessa angústia de esperar por algo indefinidamente."


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