Folha de S. Paulo


Com redução das chances de Sanders, partidários avaliam outros candidatos

Bernie Sanders perdeu a primária de Nova York com desvantagem de dois dígitos. A diferença do seu número de delegados em relação à Hillary cresceu ainda mais depois das cinco primárias que aconteceram nesta terça-feira (27). E a ex-secretária de Estado dos EUA está cada vez mais voltando seus ataques a Donald Trump, confiante de que garantirá em breve a indicação democrata.

Apesar disso, os partidários de Sanders continuam a comparecer aos seus eventos, ansiosos por ouvir sua mensagem mas cada vez mais cientes de que as chances políticas de seu candidato estão se reduzindo dia a dia.

Mark Makela25.abr.16/The New York Times
Apoiadora de Bernie Sanders em campanha na universidade de Drexel, na Filadélfia
Apoiadora de Bernie Sanders em campanha na universidade de Drexel, na Filadélfia

"Odeio dizer, mas sinto que estou enfiando um saco de papel na cabeça e fazendo figa", disse Jessie Burnett, 39, mãe de três filhos e moradora em Tolland, Connecticut. "Estou dando meu pleno apoio a Sanders até que ele declare que abandonará a disputa", ela disse, classificando como "horríveis" as chances do candidato de obter a indicação democrata.

O aumento da frequência de questões quanto a se e quando Sanders poderia admitir sua derrota diante de Hillary – ou pelo menos começar a atenuar seus ataques a ela – frustra não só o senador de Vermont, mas muitos de seus fãs. Entusiástico como sempre, ele convoca repetidamente as plateias de seus comícios sempre lotados a pedir que seus parentes e amigos votem nele, afirmando que a "revolução política" depende da capacidade de envolver pessoas.

Mas uma realidade mais desanimadora quanto às perspectivas do candidato começa a se afirmar até mesmo entre seus mais ardentes partidários.

David Wacker, 34, técnico de serviço da Verizon, que está em greve, disse que planejava votar em Sanders na primária da Pensilvânia, mas que já havia começado a ponderar o que fazer se o senador não conquistar a indicação.

"Há muita coisa em jogo contra ele", disse Wacker, com uma careta de desânimo, enquanto exibia um cartaz em defesa de seu sindicato, em um comício em Pittsburgh na segunda-feira (25). "Ainda acredito que ele tenha como conquistar a vitória, mas sou realista. Sei que as chances estão diminuindo. Mas ele ainda é meu candidato, e continuo muito fiel a ele, e por isso vou continuar com ele até o fim".

Muitos dos partidários de Sanders dizem que esperam que ele encontre uma maneira de reduzir a vantagem de Hillary e de persuadir mais dos "superdelegados" a apoiá-lo. Porém, alguns desses mesmos partidários já começaram a tentar determinar se apoiarão a rival democrata caso ela vença, e procuram chegar a conclusões quanto ao que a campanha de Sanders pode representar para a ala progressista da política no futuro.

Cynthia Kral, 38, de Pittsburgh, disse que jamais votaria em Hillary. "Não consigo confiar nela", disse Kral, acrescentando que planejava votar em um candidato independente ou escrever o nome de Sanders em sua cédula, na eleição presidencial. "Sinto que ela pode ser comprada, quanto a qualquer coisa, e ela ser presidente me assusta".

Mark Makela-25.abr.16/The New York Times
Partidários de Sanders esperam pelo senador de Vermont em campanha na Filadélfia
Partidários de Sanders esperam pelo senador de Vermont em campanha na Filadélfia

Kral, assistente de ensino no Centro Médico da Universidade da Pensilvânia, e outro partidário de Sanders que vive em Pittsburgh, Geoff Sanderson, 31, dizem esperar que mesmo que o senador saia derrotado, o movimento progressista que ele deflagrou se perpetue, ainda que sua candidatura termine.

"É em parte doloroso", disse Sanderson, administrador de um teatro, sobre a disputa. "Mas quanto ao resto, há uma sensação de que pelo menos a candidatura dele tenha sido o começo de alguma coisa e não o final".

Hillary já conta com 2.151 delegados ante os 1.338 de Sanders, e são necessários 2.383 para garantir a indicação. Contudo, a liderança da ex-secretária de Estado dos EUA em relação aos superdelegados a deixa com apenas 400 delegados aquém da maioria para sua candidatura.

Katherine Duncan, 30, de West Hartford, Connecticut, mantém a esperança de que Sanders vença, mencionando motivos pessoais. Ela trabalha como orientadora de carreira, e tem mais de US$ 130 mil em dívidas educacionais depois de ter se graduado em comunicações e ter obtido mestrado em relações públicas.

"É um peso tão grande que nem sei onde começar", disse Duncan. "Tenho problemas para dormir. Isso está mudando o rumo da minha vida, de certa forma, porque não posso fazer coisas que desejo já que tenho de pagar aquela dívida".

Determinada a aumentar as chances de seu candidato, ela foi ao comício de Sanders em Hartford na noite de segunda para fotografar o evento e postar as imagens em sites de mídia social, em um esforço para empolgar sua família e amigos quanto à candidatura dele.

"Sinto confiança em que ele está dando tudo que pode, e isso é o mínimo que posso fazer por ele", ela afirmou.

O apoio firme de Duncan é ecoado pelas multidões que Sanders continua a atrair. Cerca de 1,8 mil pessoas compareceram ao comício em Hartford na segunda, e 800 foram ao de Pittsburgh, segundo a direção de sua campanha. Em cada evento, os presentes aplaudem quando Sanders fala de seus planos para combater a desigualdade de renda e para uma reforma do sistema de financiamento de campanhas eleitorais.

No comício do Connecticut, na terça, Sanders não mostrava sinais de desistência, e pedia repetidamente aos partidários que votassem nele. "Quando nos mantemos unidos e lutamos por uma agenda que funciona para todos, lutamos por um governo que represente todo o povo e não só o 1%. Quando o fazemos, não há coisa alguma que não possamos realizar", ele disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: