Folha de S. Paulo


Lesbos, na Grécia, busca nova imagem apesar de expulsões de refugiados

Poucos moradores da ilha grega de Lesbos perceberam que mais uma leva de migrantes e refugiados foi deportada nesta terça (26) para Dikili, na Turquia, separada pelo mar Egeu por só 30 km.

O barco de bandeira turca Nazli Jale partiu com 13 pessoas, a maioria afegãs, por volta das 14h locais (8h de Brasília) e sem protestos no porto de Mitilene, ao contrário de duas deportações anteriores.

Tuncay Dersinlioglu - 8.abr.2016/Reuters
Imigrantes deportados da ilha de Lesbos, na Grécia chegam de barco à cidade de Dikili em 8 de abril
Imigrantes deportados da ilha de Lesbos, na Grécia chegam de barco à cidade de Dikili em 8 de abril

Satisfeito, um policial da Guarda Costeira diz, sem se identificar, que já era o terceiro dia sem que ninguém chegasse à ilha em botes improvisados —situação bem diferente de alguns meses atrás, quando os viajantes desembarcavam às centenas por dia.

"Lesbos precisa agora mostrar aos visitantes esta nova imagem, não o caos do fim do ano passado", afirma Giannis Samiotis, 63, presidente da associação das agências de viagem da ilha.

Conhecida originalmente pelas praias e pela história —o termo 'lesbianismo' deriva de Safo (século 7º a.C.), moradora da ilha que escrevia poemas exaltando a beleza das mulheres locais—, Lesbos passou a ser associada à crise de refugiados europeia.

Em 2015, recebeu mais de 480 mil fugitivos de conflitos no Oriente Médio, que usavam a ilha de 90 mil habitantes como rota rumo à Europa central. Neste ano, passaram por Lesbos 89 mil até agora.

"Eles dormiam até nos barcos atracados no porto", lembra Samiotis. "Muitos turistas não devem voltar, mesmo que agora esteja mais calmo."

Cerca de 80 mil visitaram Lesbos entre maio e outubro de 2015 (alta temporada), e a estimativa, diz, é que o número caia à metade neste ano.

A chegada dos migrantes e refugiados foi a quase zero por causa do acordo entre a Turquia e a União Europeia, que prevê a recondução a solo turco daqueles que atravessarem ilegalmente o mar Egeu desde 20 de março. Desde 4 de abril, dia da primeira deportação, 344 já foram expulsos de Lesbos e de outras ilhas menores ao redor.

'VIVO NUMA PRISÃO'

Apesar de não haver mais ruas tomadas por refugiados em Lesbos, a questão não foi resolvida. Cerca de 3.000 deles vivem longe dos olhos dos moradores no campo de Moria, ao norte do porto de Mitilene. Lá ficam aqueles que chegaram depois de 20 de março e aguardam uma decisão do governo grego sobre os pedidos de asilo para saber se ficam no país ou voltam para a Turquia.

Antes uma base militar, o campo de Moria é cercado, e o acesso a jornalistas é proibido. No entanto, muitos refugiados se aproximam da cerca para falar.

Vindo de Bangladesh, Gavir Mussavi, 20, mostra um documento que comprovaria sua entrada em Moria em 11 de março, antes do início do acordo UE-Turquia. "Já tentei convencê-los de que não devo ficar aqui. A comida é ruim, há muita briga. O pior é não poder sair em hora nenhuma. Vivo numa prisão."


Endereço da página:

Links no texto: