Folha de S. Paulo


Após visitar campo de refugiados, papa leva sírios para o Vaticano

O papa Francisco retornou de sua viagem à ilha grega de Lesbos, neste sábado (16), levando para o Vaticano 12 refugiados sírios que estavam em um campo de detenção após cruzarem o mar Egeu vindos da Turquia.

Desse grupo, seis são menores de idade, que chegaram a Lesbos antes de 20 de março, quando entrou em vigor o acordo entre União Europeia e Turquia que prevê deportação para solo turco daqueles que fizeram a travessia ilegal.

Segundo o Vaticano, trata-se de três famílias sírias, cujas casas foram bombardeadas em meio à guerra civil que se arrasta no país há cinco anos. Com esse gesto, o pontífice busca ressaltar sua oposição à atual política europeia de fechar suas fronteiras para os fugitivos de conflitos no Oriente Médio.

No que chamou de "viagem da tristeza" antes de sua chegada, ele se encontrou com cerca de 250 detentos do campo de detenção de Moria —em sua maioria sírios que entraram com pedido de asilo na Grécia— e conheceu um grupo de menores que fizeram a travessia do Egeu desacompanhados. "Vocês não estão sozinhos", disse Francisco em sua saudação. "Esta é a mensagem que desejo deixar a vocês: não percam a esperança!"

Filippo Monteforte/AFP
Papa Francisco visita refugiados na ilha grega de Lesbos
Papa Francisco visita refugiados na ilha grega de Lesbos

Os menores foram colocados na entrada de Moria, e alguns seguravam bandeiras da Síria. Ao lado do premiê grego, Alexis Tsipras, e do patriarca Bartolomeu, líder da Igreja Ortodoxa, o papa cumprimentou refugiados, que ficaram atrás de uma barreira de metal, e afagou o rosto de algumas crianças.

Tsipras disse a Francisco que "esta é a ilha que tem suportado todo o peso da Europa em seus ombros". Dos cerca de 1,1 milhão de pessoas que chegaram ao continente no ano passado, 850 mil entraram pela Grécia, e a principal porta de entrada é Lesbos, por estar a menos de 30 km do litoral turco.

A Grécia tem hoje cerca de 53 mil refugiados vivendo em seu território, dos quais em torno de 5 mil chegaram após o dia 20 de março, data de início do acordo UE-Turquia, e estão retidos nas ilhas do Egeu. Pelo pacto, esse contingente está sujeito a ser deportado de volta para solo turco, mas tem direito a pedir asilo e, se for aceito, permanecer na Grécia.

O papa agradeceu aos gregos por sua generosidade —"eles têm reagido às necessidades dos refugiados apesar de suas próprias dificuldades"— e fez um apelo: "Espero que o mundo preste atenção a essas cenas trágicas e desesperadas de necessitados e responda de uma forma condizente com a humanidade."

As entidades de direitos humanos têm criticado as condições no campo de Moria. O acesso a jornalistas não é permitido, mas funcionários dessas organizações de ajuda afirmaram que, para a visita do papa, paredes foram pintadas, o sistema de esgoto foi reparado e dezenas de detentos foram transferidos para outro centro, que não será visitado pelo papa.


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