Folha de S. Paulo


Envolvida em processos, Cristina Kirchner depõe sobre venda de dólares

A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner prestará depoimento à Justiça nesta quarta-feira (13) sobre um caso de venda de dólares no mercado futuro que pode causar um prejuízo de 29 bilhões de pesos (R$ 7,2 bilhões) aos cofres do país.

Esse é o processo mais avançado contra a antecessora de Mauricio Macri, mas ela é investigada por outros crimes. No fim de semana, ela foi denunciada sob suspeita de lavagem de dinheiro.

O Ministério Público Federal afirma que Cristina pode estar envolvida com o empreiteiro Lázaro Báez, amigo da família Kirchner. Preso desde a semana passada, o empresário foi um dos principais beneficiários das licitações de obras durante o kirchnerismo (2003-2015).

Há anos existem rumores de que Báez seja um laranja do casal de ex-presidentes.

A relação com a família era intensa —foi Báez que construiu o mausoléu de Néstor Kirchner, que morreu em outubro de 2010.

No mês passado, foi vazado para a imprensa um vídeo em que um dos filhos de Báez, Martín, aparece contando milhares de dólares em uma financeira. As imagens deram força ao processo.

Um dos chamados a depor sobre o caso foi o financista Leonardo Fariña, que havia dito em um programa de TV em 2012 que participara de manobras financeiras para enviar dinheiro de Báez à Suíça. Logo em seguida, voltou atrás e falou que mentira.

Na última sexta (8), porém, Fariña afirmou à Justiça que visitou os Kirchners na Quinta de Olivos (residência oficial da Presidência) e que o dinheiro das obras públicas realizadas por Báez iam para as empresas dos Kirchners.

Com esse depoimento, a Promotoria Federal pediu para que Cristina fosse incluída nas investigações. Agora, um juiz determinará se o caso seguirá adiante.

Caso acredite que a ex-mandatária possa ter cometido algum delito, deverá convocá-la a prestar esclarecimentos. Em seguida, decidirá se ela deverá responder a um processo judicial.

Todas essas etapas devem levar anos. O ex-presidente Carlos Menem, que deixou o poder em 1999 e é processado por encobrir a investigação do atentado à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), por exemplo, está sendo julgado atualmente.

A denúncia do Ministério Público argentino é uma ação preliminar do processo.

O atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, também foi denunciado na semana passada. Ele deverá ser investigado por ter sido nomeado diretor de uma empresa offshore constituída no paraíso fiscal de Bahamas.

Sua defesa afirma que ele não declarou a companhia entre seus bens por não ter ações dela nem nunca haver recebido um salário. A Promotoria quer saber se a ausência da empresa em suas declarações ocorreu com alguma má intenção.

Além de se preocupar com o caso do presidente, a Casa Rosada receia que as ações que envolvem Cristina Kirchner possam acabar vitimizando-a e alimentando o discurso kirchnerista de oposição.

Nesta segunda (11), kirchneristas lotaram a portaria da casa da ex-presidente em El Calafate, na província de Santa Cruz (extremo sul), para onde foi após deixar a Presidência, em dezembro.

Os militantes acompanharam-na até o aeroporto. Na capital, outros aliados a esperavam no Aeroparque Jorge Newbery e diante do prédio onde ela mantém apartamento no centro da cidade.


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