Folha de S. Paulo


Palco de meia maratona desde 2006, aeroporto em obras constrange Berlim

Era 2006 quando as autoridades responsáveis pelo futuro aeroporto de Berlim-Brandemburgo decidiram organizar uma corrida no canteiro de obras para a população acompanhar seu avanço.

Neste sábado (9), a meia maratona chegou à décima edição, e cerca de 6.000 inscritos correram mais uma vez por pistas onde não decolam nem pousam aviões e em torno de um terminal que parece pronto, mas segue vazio.

Gunter Wicker/Divulgação
Corredores participam de meia maratona que passa por obra inacabada de aeroporto em Berlim
Corredores participam de meia maratona que passa por obra inacabada de aeroporto em Berlim

A chamada Airport Night Run sobrevive graças às diversas falhas que acompanham desde o início a construção do que virá a ser o maior aeroporto de Berlim e o terceiro da Alemanha (atrás de Frankfurt e Munique), com capacidade para 30 milhões de passageiros por ano.

Em abril de 2012, a sexta edição da corrida teve tom de despedida, pois o terminal tinha data para ser inaugurado: em dois meses. Mais de 40 mil pessoas estavam convidadas para a festa, até que o consórcio responsável informou que não cumpriria o prazo por problemas no sistema contra incêndios.

O então prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, chamou o adiamento de "desastre". Desde então, houve mais quatro adiamentos. O custo da obra saltou de € 2,2 bilhões (R$ 9 bilhões) para € 5,34 bilhões (R$ 21,8 bilhões).

A operadora do aeroporto diz que a previsão atual é inaugurá-lo no segundo semestre de 2017, mas a imprensa alemã relata que, internamente, trabalha-se com 2018.

O plano é que o terminal leve ao fim das operações nos aeroportos de Schönefeld e Tegel, mas já há um movimento popular por Tegel, preferido por ser mais próximo.

Quatro anos após o primeiro atraso, o terminal ainda não foi aprovado em todos os testes contra incêndio. Depois de o aeroporto de Düsseldorf ser tomado pelas chamas em 1996, deixando 17 mortos, o governo alemão passou a ser mais rígido.

Autoridades de inspeção, por sua vez, disseram que os responsáveis por Berlim-Brandemburgo entregaram a documentação com atraso.

Um dos porta-vozes de Berlim-Brandemburgo, Lars Wagner afirmou à Folha que também houve erros de planejamento da capacidade do terminal. "Há 20 anos, quando os projetos começaram, não se teve dimensão exata do crescimento de demanda de passageiros em Berlim."

Para Oliver Peter, 33, participante da meia maratona, é "constrangedor que a obra não esteja pronta".

Questionado sobre o fato de isso aproximar a Alemanha de países em que obras eternas são comuns, como o Brasil, o porta-voz Wagner admite um "problema de imagem". "As pessoas se perguntam como isso ocorre se temos os melhores engenheiros. Reconhecemos os erros e fazemos o possível para a obra ser entregue no prazo."

Enquanto os passageiros não chegam, os participantes da Airport Night Run têm a inusitada experiência de correr na imensidão de uma pista para aviões, passar sob os "fingers" do terminal e ver as áreas de embarque com a mobília coberta por plástico.

"Se houver a prova em 2017, pretendo correr", disse Hendrik-Matthias Schmidt, 25, estreante. Ao que parece, ele terá essa oportunidade.


Endereço da página: