Folha de S. Paulo


Lei que pune clientes de prostitutas recebe apoio e críticas na França

O parlamento francês deve aprovar nesta quarta-feira (6) a nova lei sobre prostituição na França, que prevê punição para clientes flagrados pagando pela prática. O texto é elogiado por ONGs, mas criticado por profissionais do sexo e sindicatos de policiais, de acordo com os jornais franceses.

"Le Parisien", que ilustra sua manchete com uma prostituta de rua sendo abordada por um motorista não identificado, afirma que o cliente, a partir de agora, será tratado como um "delinquente".

A "compra do ato sexual", como define o texto da nova lei, será punida com uma multa de 1.500 euros (cerca de R$ 6.200) caso o cliente seja pego em flagrante, informa o diário.

Thomas Samson/AFP
A protester (R) holds a sign reading
Manifestante em protesto realizado por prostitutas e apoiadores próximo à Assembleia Nacional francesa

Os defensores da nova lei, proposta pelos socialistas, falam de uma "revolução" e de um "momento histórico" na luta contra redes de prostituição. A proposta tira o cliente "invisível" das sombras e vai evitar que a prostituta seja criminalizada, como é caso atualmente.

Citada pelo jornal, a deputada Maud Olivier explica que o texto muda a relação de forças. Para o cliente, vai permitir que ele tenha consciência de que o dinheiro pago pelo sexo alimenta uma rede criminosa. Por outro lado, segundo a parlamentar, a lei irá proteger as prostitutas, porque elas serão consideradas "vítimas de uma espécie de escravidão ou de uma situação econômica, e não mais tratadas como uma simples mercadoria".

O texto da nova lei prevê ainda uma série de medidas para acompanhar as pessoas que queiram sair da prostituição. Mas os detalhes deverão ser definidos por decretos.

Um responsável por uma ONG ouvido pelo jornal celebra essa "inversão de valores", na qual a prostituta, vista como "alguém que perturba a ordem pública", será tratada agora como "uma pessoa que precisa de proteção".

"Le Parisien" lembra que o principal objetivo é dissuadir os que recorrem a essa prática. Olivier espera que a aplicação de multas iniba muitos clientes. "Na França, as pessoas costumam ter medo dos policiais", diz.

O jornal ainda ouviu especialistas que dizem ser difícil comprovar esse delito, e duvidam que no momento em que a França luta contra o terrorismo, o governo irá enviar policiais para as ruas à caça de clientes de prostitutas.

Uma prostituta búlgara de 30 anos, ouvida pelo jornal, diz que será complicado comprovar o delito, porque ela leva os clientes para casa. Outra prostituta ouvida pelo diário reclama que o governo teria que "concentrar suas ações contra redes criminosas" e deixá-las em paz para fazer o que quiserem com seus corpos.

Já "Le Figaro" lembra que, em caso de reincidência, um cliente de prostitutas poderá pagar uma multa mais salgada, de até 3.750 euros (R$ 15.700). Entrevistado pelo jornal, o secretário-geral do sindicato de policiais Synergie Officiers, Patrice Ribeiro, estima que a "abordagem ideológica e social sobre a prostituição está desconectada da realidade".

Cético quanto à aplicação da lei, ele prevê que, no começo, as operações serão realizadas em áreas de prostituição para "agradar aos promotores de justiça", mas, logo depois, tudo voltará ao normal. Um dos pontos mais delicados, segundo Ribeiro, será comprovar a "compra do ato sexual", como definida na nova lei.


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