Folha de S. Paulo


Extremistas do EI festejam atentado em Bruxelas com distribuição de doces

Os ataques de terça (22) em Bruxelas foram celebrados por extremistas em redes sociais e em grupos de comunicação ligados à facção terrorista Estado Islâmico.

Após o atentado, a Folha teve acesso a conversas de extremistas pelo aplicativo de mensagens Telegram e sites da internet profunda (que buscadores comuns não conseguem captar).

Em um dos diálogos, extremistas citam festas com distribuição de doces para os muçulmanos no território controlado pela facção (em parte da Síria e do Iraque) para comemorar o "ataque abençoado em Bruxelas".

Nas conversas a que a Folha teve acesso, sob perfil falso, os radicais comentam estratégias usadas nas redes após os ataques para amplificar a sensação de insegurança e potencializar o medo de atentados.

Enquanto internautas comuns publicavam lamentos e mensagens de solidariedade nas redes, supostos líderes extremistas orientavam seguidores a publicarem ameaças em inglês utilizando os mesmos mecanismos.

"Vamos matar todos vocês com facas, armas e bombas. É um prazer explodir a cabeça dos infiéis. Melhor seria cortar suas cabeças com uma faca de cozinha", sugeria como ameaça um dos perfis.

Em outra publicação, admiradores do EI afirmam que os ataques foram apenas uma resposta às operações realizadas na Síria. "Vocês nos bombardeiam no Oriente, agora vamos bombardeá-los no ocidente. Será olho por olho e dente por dente. Esperem mais bombas, esperem a morte", escreveu um.

Em comunicado oficial por meio do canal denominado Khilafah, a facção conclamava para uma "batalha on-line", pedindo que seus seguidores publicassem fotos e vídeos do califado. "Vamos entrar na cabeça das pessoas", afirmava a convocação.

TINTIM

Entre as publicações divulgadas nos grupos para serem repassadas na ação midiática, havia fotos de crianças sírias mortas nas operações militares no país e novas ameaças. Em outra imagem havia a foto do personagem Tintim, que é belga, decapitado, acompanhada da frase "Tintim não deveria ter mexido com terras muçulmanas".

Após algumas horas, a tática passou a ser combatida pela administração das redes sociais. Perfis com mensagens e imagens de apoio ao jihadismo e ameaças passaram a ser suspensos.

A maioria dos adeptos do EI não tem acesso e contato direto com recrutadores nem líderes da facção e usa hashtags criadas pelo grupo para se acharem on-line (a Folha não publicará as expressões), sobretudo quando contas são vetadas.

A comunicação entre os jihadistas é complexa e fracionada em grupos e meios denominados "canais", que são usados apenas para divulgação de orientações e comunicados, tanto nos aplicativos de mensagens como na internet profunda. Entre esses grupos há os de notícias mundiais do EI, os de treinamento, os de estudo do Alcorão e os de debates de estratégia.

As principais comunicações ocorrem na internet profunda e usam aplicativos criptografados. Nos sites e chats ligados aos radicais a que a Folha teve acesso, havia preocupação em explicar o porquê da escolha dos alvos e a proclamada necessidade de ataques a Europa, citando ofensivas militares ocidentais contra territórios da facção.

Logo após o atentado, líderes do mundo inteiro se pronunciaram em defesa da Bélgica e repudiaram os ataques.

Em resposta, o Estado Islâmico divulgou três vídeos para serem disseminados em redes sociais nas quais jihadistas aparecem decapitando reféns e fazendo ameaças, principalmente ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, e ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, cujas forças atacam a facção na Síria.

Foram publicadas ainda imagens do que supostamente seriam as bombas usadas pelos suicidas, feitas com peróxido de acetona e cujas instruções de confecção estão em fóruns obscuros.


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